Ode à cebola


Cebola,
luminosa redoma,
pétala a pétala
se formou a tua formosura,
escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra escura
se arredondou o teu ventre de orvalho.
Sob a terra
foi o milagre
e quando apareceu
o teu torpe talo verde,
e nasceram
as tuas folhas como espadas no quintal,
a terra acumulou o seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite o mar remoto
duplicou a magnólia
levantando os teus seios,
a terra
assim te fez,
cebola,
clara como um planeta,
e destinada
a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de água,
sobre
a mesa
das pobres gentes.

Generosa
desfazes
o teu globo de frescura
na consumação
fervente da panela,
e a tira de cristal
ao calor aceso do azeite
se transforma em encrespada pena de ouro.

Também recordarei como fecunda
a tua influência o amor da salada,
e parece que o céu contribui
te dando a fina forma de granizo
celebrando a tua claridade picada
sobre os hemisférios de um tomate.

Mas ao alcance
das mãos do povo,
regada com azeite,
pulverizada
com um pouco de sal,
matas a fome
do peão no duro caminho.

Estrela dos pobres,
fada madrinha
embrulhada
em delicado
papel, sais do solo,
eterna, intacta, pura
como semente de astro,
e ao te cortar
a faca na cozinha
sobe a única lágrima
sem dor.
Fizeste-nos chorar sem nos afligir.
Tudo quanto existe celebrei, cebola;
mas para mim és
mais formosa que uma ave
de penas cegadoras,
és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina,
dança imóvel
de anêmona nevada
e vive a fragrância da terra
na tua natureza cristalina.

(Pablo Neruda – 1954)

Anarquistas!!


O pilar de toda injustiça é a Lei.
Se não houvessem leis, não haveria erros, nem maus, ou pecadores.
A Lei é o princípio das desigualdades!
Quem clama por ordem e leis são os burocratas, os legisladores e os escravos. Gente que, ou se beneficia do sistema, ou não sabe viver em liberdade.
Nós somos pelo fim da Lei, somos da liberdade, somos da verdadeira justiça.
Somos anarquistas, somos libertários.

Rafael Reparador

Espírito de guerra


Famílias dizimadas, empresas lucrando,
Gerações canceladas, navios afundando,
Mulheres estupradas, guerreiros violando,
Violência embriagada, cálice nefando.

Os soldados que matam,
As pessoas que morrem,
Paisagens que se transformam,
cidades que se dissolvem,
Governos que caem, outros que se erguem.
Ditadores trocam de posto,
Destinos que se perdem.

Todos temos um lado favorito,
Uma bandeira, um hino, uma cor.
Todos estamos do lado bendito,
Enquanto o outro é o inimigo infrator.

A Humanidade não vive mais sem guerras,
Seja em casa, na cidade,
no partido, na torcida
Vivemos em espírito bélico nesta terra,
numa luta estúpida e suicida.

Rafael Reparador