Personal Friend!


Estamos no meio de uma grande crise mundial!
Não falo isso por causa da carência de alimentos e recursos nos países subdesenvolvidos, ou pelas catástrofes naturais tão comuns na Ásia, ou ainda, pelas quedas das bolsas de valores do mundo, ocorridas pela contínua desvalorização do dólar americano.

Vivemos no meio de uma crise ainda de uma elemento ainda mais essencial para a sociedade do que todas essas coisas juntas: estamos numa terrível crise de amigos!
Amigos são peças fundamentais na formação e sustentação da personalidade de qualquer pessoa. Existe um tipo de amor dentro de cada um de nós que está reservado para essa classe de pessoa que nos cerca e não sou eu quem está afirmando isso, mas o Milton retumbou para toda uma geração, que eles estavam guardados no lado esquerdo do peito, ainda que o tempo e as adversidades teimassem sempre em afastá-los de nós.

Quando adolescentes, os amigos representam uma das instituições mais importantes para nós. Juramos-lhes lealdade eterna, fazemos pactos com eles, compartilhamos as nossas intimidades mais grotescas e também as mais puras, sem nos sentirmos envergonhados por isso.
A identificação é tão grande que, seja num quarto ou no retorno de uma balada, as centenas de madrugadas que passamos juntos parecem pouco tempo para esgotar os assuntos em nossas intermináveis conversas.

Contudo, os abrolhos e espinhos da vida adulta – ou seria melhor chamar de adúltera? – somos muitas vezes impelidos em relembrar e desejar a presença deles perto de nós, como se estivéssemos ancorados numa terra perdida no espaço/tempo, onde e quando éramos as pessoas mais felizes que jamais seremos novamente.
Uma pena ver a evolução e o amadurecimento humanos estarem ligados tão fortemente ao desvanecer do afeto e ao mergulho no pragmatismo. Acredito que essas coisas contribuem grandemente para retirar de nós a leveza que tínhamos no nosso relacionamento com o mundo e com as pessoas que moram nele.
O que se costumava chamar de irresponsabilidade, eu gostaria de batizar de liberdade.
Essa é uma marca que foi impressa em nossas almas naquele tempo em que tínhamos amigos de verdade: éramos livres diante das cobranças e solicitudes naturais do inexorável sistema social.

Todavia, uma nova solução para essa crise que assola a sociedade contemporânea está chegando ao Brasil. Importado da Europa, o serviço de Personal Friend (Amigo Pessoal) está disponível na cidade de São Paulo há cerca de seis meses e já conta com uma pequena, mas fiel clientela.
Por valores que variam entre 100 e 300 reais, qualquer pessoa pode contratar por uma hora um amigo para acompanhar-lhe num almoço, num café da tarde ou ainda para dançarem juntos.
Com boa aparência e inteligentes, esses profissionais vêm para suprir aquele vazio que ficou “no lado esquerdo do peito” de uma maneira muito eficiente, pois, como são produtos disponíveis no mercado, se assemelham muito àqueles velhos amigos da adolescência que não cobravam de nós uma conduta madura diante da vida, nem uma performance além do que éramos de fato.
A diferença entre eles está no fato de que aqueles do passado estavam conosco porque gostavam de nós e estes de agora, disponíveis nas prateleiras do mercado social, estão conosco porque pagamos.
Em tempos de genéricos e similares, parece que a sociedade moderna encontrou uma profilaxia capaz de curar mais um dos males da modernidade.

Biblicamente, vejo Jesus falando de sua amizade devota aos discípulos, prometendo não menos do que sua própria vida em favor deles.
João Batista, por sua vez, se autodenomina “amigo do Noivo”, prometendo ser alguém disposto a ouvir, esperar e ajudar fielmente seu amigo.
Por fim, o Senhor chamou os seus discípulos de amigos, após os mesmos adquirirem a clara consciência de sua missão em continuar a obra de seu discipulador.

Concluo este ensaio sobre amizade, analisando-a à luz destes exemplos bíblicos acima citados, procurando encontrar uma formatação aproximada do que é um amigo de verdade:

Amigo é alguém que nem sempre está próximo, mas mesmo assim, marca intimamente nossa vida.
Alguém que conhece, acredita e trabalha em favor do nosso sonho.
Um amigo de verdade tem prazer em ouvir a nossa voz e, ainda que estejamos muito distantes, permanece leal às promessas que fez, pois o tempo e a distância não podem corroer sua aliança conosco.
Enfim, o genuíno amigo, é capaz de compartilhar os seus bens e virtudes mais preciosas em nosso favor.


Resta-nos saber que tipo de amigo cada um de nós é e que tipo de amigos cada um de nós tem...


Eu não sei se sou um desses, mas sei que tenho um grande amigo parecido com este descrito aí em cima. Ele me ama, deu sua vida por mim, me ajuda, me sustenta, enfim, não estou sozinho no mundo e nem preso na nostalgia.


Estou plenamente satisfeito e feliz com a amizade sobrenatural mas viva, invisível mas real do Filho de Deus.


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