Canção pra Moni

Oráculo




Não vamos defender o infeliz do Feliciano, nem o infeliz do Willis, nem o infeliz do Genoíno, nem qualquer outro político podre, pobre e igualmente infeliz. Todos esses, do alto de suas pirâmides, controlam as massas marcadas com o ferro de suas instituições corruptas e anestesiantes, dentre as quais, coloco sem medo a igreja evangélica brasileira, vendida através das décadas em conchavos políticos que começaram com sacos de cimento e tijolos, em troca de votos e, mais recentemente, adentram a escala das concessões de TV e o empréstimo de estádios para suas concentrações de fé (em Mamón).
Agora, por favor,  não usemos a Graça como argumento de defesa da imoralidade política de nossa nação, pois isto constitui o fim do Evangelho.
A Graça salva miseráveis pecadores convictos e Jesus a estabeleceu para salvar
indivíduos arrependidos e não sistemas opressores.

Oráculo


 ...entupidos de letras mortas, esvaidos da essência de vida, intolerantes, brutais e tolos. Cheios de argumentos cruéis, com aparência de retidão e justiça, infringem aos outros um padrão que eles próprios são incapazes de viver. São esses hipócritas que ocupam os tronos dos impérios que ergueram em nome do Filho de Deus, a quem não conhecem, mas sobre quem imaginam estar baseados.
Fujam desses...

Rafael Cardoso 


Congregar, o que é isso?



Muito se fala em congregar, entre os crentes! Esta é uma mensagem que vem sempre cerca com tons de advertência, uma reprimenda que é reverberada por todos os cristãos, emoldurada sempre por um aspecto de severidade no rosto de quem a prega. 
Não raro, se diz “não deixeis de congregar, como é costume de alguns”, citando que os “alguns” são a turba dos desviados, os quais, não estão entre nós, mas se voltarem, ajoelharem-se e pedirem perdão serão aceitos, pois nós somos o povo de deus e sua santa amada igreja na terra, portanto detentores das chaves do perdão e da reconciliação. 
Me poupem!
Há uma aura de autoridade nisso tudo, talvez até autoritarismo. Mas, convenhamos, está escrito e se escrito está, então assim é. Não?!
Desmistificar é preciso, necessário, fundamental para que possamos ser conduzidos a uma vida de liberdade. Liberdade que é uma virtude quase utópica nos rincões evangélicos da atualidade, pois a mesma só se encontra no papel fino do Livro Preto, na língua carismática do evangelista eloqüente e distante da vida prática das congregações.
Em minha opinião, é um engano achar que as congregações congregam, ou melhor, que se congrega quando se vai na congregação.
Entenda algo importante: ir ao culto não é congregar! Ir ao culto, como o próprio nome já diz é cultuar, realizar um ritual.
O mais complexo nisso tudo – em minha opinião - é que a revelação deixada por Jesus é que Deus, seu Pai, nosso Pai, não é Deus de rituais. Holocaustos e sacrifícios vétero testamentários já eram rejeitados por YHWH - nome do Deus dos judeus. Na Nova Aliança (entenda de uma vez por todas que quando se diz Nova, quer dizer que a Velha já era), está descrito que Deus não mora em templos que os homens constroem, que não pode ser encontrado na cidade santa, nem no monte sagrado. Onde está Deus, então?
Deus está escondido nos relacionamentos com seu novo povo, sua família na terra.
Pra entendermos isto, devemos abrir nossas mentes pro fato de que Ele agora não é meramente Deus, pois Jesus, o nosso Messias, disse que quando formos nos reportar a Ele, devemos chamá-lo de Pai. Agora, não é a relação de uma divindade e seus adoradores. Agora a convivência se dá de Pai para filho! Que maravilha, não acha? Ele é nosso Pai!
Por entender isto com tanta força dentro de mim, rechaço todo ensinamento que me force a ver Deus como YHWH e a mim mesmo como Judeu. Rejeito toda teologia que tente me convencer a cultuá-lo através de um ritual, seja com músicas, com incensos, com orações, rezas, correntes, liturgias...
Até poderia assumir que não veria nada de errado em se cultuar a Deus, desde que fosse da maneira correta. No entanto, o que vimos fazendo em nossos cultos nos finais de semana são na realidade verdadeiros espetáculos de engano.
Se Deus mora em mim, porque devo ir encontrá-lo em um templo ornamentado? Qual a razão de se ir a um lugar especial para encontrar-me com meu Pai? Meu Pai mora comigo! 
Ora, se aquele a quem você denomina deus e pai mora num lugar que você mesmo preparou com suas mãos, ou no meio dos ‘louvores’ mal tocados que você executou fazendo cara de dor, ou se ele tem a forma de uma chama em cima de uma caixa coberta com papel laminado, então, seu deus não é o mesmo que o meu.
Congregar não é nada disso! Congregar é ser habitação de Deus, conviver com Ele como Pai e compartilhar dessa vida com nossos irmãos. O que vem acontecendo em nossos cultos é ritual e Deus não habita em rituais. O que vem acontecendo em nossos cultos é manipulação e engodo, sofisma e emulação do ato de congregar.
Um exemplo até bobo disso é quando o líder manda as marionetes olharem pro lado e dizer que amam a pessoa de perto. Meu Deus, que vexame, que mentira, que teatro ridículo. Não acredito e não aceito isto como congregar!
Espero que todos entendam que não é uma generalização (sempre me cobram isto), mas o fato é que congregar, da perspectiva do Deus, Pai de Jesus envolve relacionamentos verdadeiros e fraternos, ou seja, tem que ser como uma família. 
De minha parte, revelo a todos sem medo de errar que foi somente após sair do culto e abandonar o ritualismo que encontrei a verdadeira família de Deus. Mais de 95% dos relacionamentos que tive na estrutura do culto (que se tornou uma versão virtual da vida, tentando emular as virtudes do amor, da compaixão e do respeito, através de momentos de êxtase, já passaram, perderam-se. Já as pessoas com quem convivi na vida real, que frequentaram minha casa, com os quais pude viver de forma transparente e sem as máscaras interesseiras do ritualismo, todos são meus amigos.
Acreditem, a família não está nos templos, nas cidades santas, nem nos montes sagrados em meio às orações. Ela está nas ruas, nos valados, eirados, bares, casas... onde Jesus está, ou seja, por aí!

Rafael Cardoso

Entrevista a jornal de Minas Gerais



 
Há pouco mais de um ano, o jornalista e músico Rafael Cardoso decidiu voltar para Paraíso, cidade que escolheu ainda menino para ser sua terra. Aos 37anos, sua história de vida já é digna de roteiro de cinema: venceu grandes dramas na adolescência depois da conversão ao cristianismo, foi pastor por muitos anos, deixou a igreja para evangelizar através da música gospel e, por fim, passou a servir a sociedade como jornalista. Toda essa experiência reverteu-se em um sonho: Rafael espera que os filhos, Isabela e Pedro, encontrem no pai e na mãe, Simone, o exemplo para seguirem no caminho do bem.
Você é ou não é de Paraíso?

Eu nasci em Jacareí, interior de São Paulo, no vale do Paraíba. Morei um tempo com meus avós em São José dos Campos. Cheguei a Paraíso, depois de ter passado por Santos, pois minha mãe se casou com um gerente de banco que foi transferido. Meu padrasto era paraisense, chamava-se Afrânio Soares, já falecido. Nasceu aqui, estudou no Paraisense, tem rua com o nome de seu avô. Um cara daqui, paraisense nato, que sempre quis morar aqui quando se aposentasse. Com 55 anos, ele se aposentou e viemos juntos para cá. Então, começa a minha história em Paraíso, no ano de 86. Foi o ano da Copa do México, me lembro bem.

E como foi sua incursão em Paraíso?

Foi um lugar que adotei para mim. E a cidade me adotou, com amigos, com uma história, porque eu era menino, tinha onze anos. Joguei bola aqui, brinquei de carrinho de rolimã, essas coisas todas de criança. Fiz grandes amizades, como não fiz em nenhum outro lugar, porque as amizades da infância e da adolescência são mais marcantes. Paraíso se tornou a minha terra. Eu já tinha morado em muitos lugares, mas não tinha fincado raízes em nenhum.

Como foi sua trajetória escolar?

Olha, eu fugi da escola, não estudei nada. Aqui em Paraíso, quando cheguei, estudei no Paraisense. Era um péssimo aluno, minha vida escolar é um fracasso total. Eu não respeitava muito os professores, apesar de minha mãe ser professora. Não gostava. Hoje, eu gosto. Olho para eles com admiração, por entender a classe, entender a aura filosófica dos professores, o que eles representam. Mas quando era moleque eu realmente não gostava de escola. Eu não suporto uma sala de aula.

Você consegue delimitar o que era tão difícil na escola?

Eu não prestava atenção em nada. Passava a aula inteira desenhando. Meus cadernos eram cheios de desenhos, eu tinha personagens que desenhava, e não conseguia prestar atenção em nada. Era difícil manter o foco na aula, no professor ensinando. Então, eu ficava longas semanas sem aparecer. Voltava, assistia uma aula, depois ia jogar bola, jogar sinuca. No final do ano, por consequência, não passava. E fui ficando. O legal para mim é que fui conhecendo muitas gerações (risos). Era amigo de várias delas. Fiz a 6ª série muito bem feita, três vezes. Quando cheguei no 1º ano do médio, não fiz muito bem feito, repeti várias vezes, mas eu sempre chegava só na metade. Eu nunca soube o que havia depois, porque abandonei tudo.

Em que momento esta história se reverte?

Então... Eu tive uma história boêmia muito profunda. Tive um envolvimento com drogas bem pesado nos anos 90. Nessa época, fui morar em São José dos Campos, pois queria estudar desenho mecânico. Fiquei dois anos. Aprendi desenho mecânico e muitas outras coisas e aquilo transtornou minha vida. Eu era muito novo para suportar aquela malandragem, aquilo tudo que eu via, as drogas. Eu estava com 15 anos e realmente me perdi. Naquele momento, eu não estava apto a vencer. Voltei para Paraíso, tive muitos envolvimentos com coisas ruins na cidade, me tornei um cara muito agressivo. Eu era um moleque problema. Antes, era um carinha legal, jogava bola, brincalhão. Depois, comecei a beber de forma exagerada, a me chapar de forma exagerada e me perdi. Minha mãe pediu uma força ao irmão, meu tio que mora no Rio Grande do Sul, falou que eu precisava sair de Paraíso. Disse que eu precisava de um tempo fora e de um trabalho. E fui morar no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, que foi onde minha vida começa a ter novas perspectivas.

Você deu uma virada em sua vida e chegou a estudar Teologia. Em que contexto isso se deu?

Eu passei ainda quase dois anos lutando muito com a questão das drogas. E me encontrei com o Evangelho, com o cristianismo, passei a frequentar uma igreja. Aquilo me deu um trilho que eu não tinha. Coloquei-me dentro de uma sequencia. Aprendi, estudei, queria ser pastor. Estudei Teologia e virei pastor.

Você era pastor de que linha do cristianismo e como foi seu caminho na igreja?

Eu virei pastor de uma igreja evangélica, que não tem um ramo muito bem delineado. A igreja onde eu estava tinha um pouco do pente-costal com muito do neopentecostal. É uma igreja americana, antiga no mundo, que está há 60 anos no Brasil. Aquilo foi muito importante para a minha vida, me identifiquei muito com a Bíblia, como livro e como algo que me conecta com Deus. Eu me converti em 96 e me batizei em 97. Conheci minha esposa lá, me apaixonei loucamente, uma coisa avassaladora, queria me casar em meses. Não casei porque não deixaram, me pediram calma. Então, mudou tudo. A minha identidade foi completamente transformada. Consegui suprimir todas as minhas ansiedades de jovem, adolescente, a drogadição. Eu mudei de desejos, não queria mais aquela vida. A igreja passou a ter esse papel dentro de mim. Estudei Teologia, me tornei professor lá dentro. Como sempre tive noções de música, passei a compor músicas cristãs. Entrei para a cena gospel do Rio Grande do Sul. Então, repaginei a vida totalmente. Ganhei quarenta quilos, perdi o cabelo. Casei, sou pai de dois filhos. Tudo dentro desse novo contexto da igreja, da pregação do Evangelho. Isso se tornou o mais importante para mim naquele tempo.

Você fez parte de uma banda cristã?

Tive uma banda chamada Reparadores, durante nove anos. O trabalho está completando dez anos. Foi um trabalho bem legal, gravamos CD´s, fizemos turnês internacionais, viajamos três anos consecutivos para Buenos Aires. É um trabalho muito reconhecido no Rio Grande do Sul, com clipe na televisão. Um trabalho bem bacana, mesmo, dentro do segmento da música gospel.

Em que momento e por que você saiu da igreja?

Faz um bom tempo que me desvinculei desta igreja. Foi um novo momento de minha vida, porque retorno para as pessoas que eu conhecia antes. Comecei a ver que eu havia me tornado muito distante das pessoas.  A igreja me tornou extremamente exótico. Eu não conseguia mais ter identificação, sentar à mesa de um bar e conversar com as pessoas, expor minha vida, contar minha história, ou simplesmente bater papo despreocupadamente. Eu passei a ser um cara aficionado e comecei a ficar bitolado demais. Então, começo a fazer o meu caminho da volta. Passo a me preocupar em fazer uma música que seja relevante para as pessoas fora de minha igreja. Comecei a ver a igreja como um segmento de mercado. Não gostei disso, porque não considero a fé uma mercadoria. Então, decidi, junto com minha esposa, me desvincular. Eu tinha um cargo, um apartamento que me davam, um salário razoável, uma vida bacana como pastor de uma igreja. Inclusive, a minha igreja era a 1ª desta denominação em minha cidade, uma igreja enorme, com muitos seguidores. Em dezembro de 2005, falei: estou indo embora, um abraço pra vocês. Eu não era muito de criar conflitos. Hoje, sou mais conflitante com as minhas opiniões. Eu simplesmente apliquei aquela máxima: os incomodados que se mudem. Eu não estava mais feliz com aquilo e queria ter uma vida diferente. Queria usar a música para compartilhar o que sentia, o que estava dentro de mim e que havia me mudado. A igreja foi importantíssima, fundamental para minha vida. Não o grupo somente, mas as essências que envolviam aquele grupo. A minha história não muda ninguém, a igreja não muda ninguém, mas Aquele que me mudou, pode mudar os outros. Eu queria compartilhar essa Essência, essa Pessoa. E descobri que as idiossin-crasias deste segmento estavam muito corporativas, mercadológicas. Por isso, saí fora no final de 2005.

Como segue sua carreira profissional a partir desta decisão?

Em 2006, lancei novo CD, chamado Escreve a Visão. É um trabalho que marcou muito a minha vida e marcou um tempo nosso no Rio Grande do Sul. Um trabalho totalmente regional, que no Brasil pouca gente conhece, mas no Rio Grande do Sul teve bastante representação, viajamos bastante.

Você ficou dedicado à música?

Vivi oito anos exclusivamente da música. Fiz alguns trabalhos comerciais em rádio, trabalhos em estúdio, fui produtor musical, produzi cerca de uma dúzia de CD´s. Sou compositor, há músicas minhas que outras pessoas gravaram, também.

Porto Alegre se destaca por sua cena cultural diversificada e de qualidade. Existe essa cena também dentro do segmento cristão?

Existe, é crescente, mas nada comparada ao que é no restante do Brasil. Minas Gerais, São Paulo, Paraná, e até Santa Catarina, são mais vibrantes. Nos oito anos, éramos a única banda gospel que vivia de música dentro deste segmento. Existiam bandas vinculadas a igrejas. Nós não éramos de igreja nenhuma. Tínhamos a bandeira de nossa fé. Havia um cara de uma igreja, outro da outra, pois tínhamos esse senso comum, curtíamos o Evangelho, curtíamos Jesus, e queríamos falar isso para as pessoas através da música.

Quando e por que você volta para Paraíso?

Eu cheguei em janeiro de 2012. Estava cansado, injuriado da vida de cidade grande. Minha filha iria começar a estudar. Eu e minha esposa tínhamos o sonho de aplicar com nossa filha um modelo de ensino que é proibido no Brasil: Homeschooling. Eu não queria que minha filha estudasse em uma escola, sobretudo em uma escola pública em Porto Alegre. A cidade é um lugar bacana, de cena cultural vibrante, tem uma feira do livro anual gigantesca, acho que é a maior do Brasil a céu aberto. É fantástica. Porto Alegre tem muitos teatros, muitos cinemas, pequenas salas. É um lugar que curte essa vida artística. Mas a questão do ensino público é precária, por ser uma capital e por eu morar na periferia. Se eu pudesse morar em um lugar melhor e tivesse uma circunstância que me permitisse pagar um colégio bacana, Porto Alegre seria melhor que Paraíso. Lembrei-me da escola pública que vivi em Paraíso, da experiência que eu e minha irmã tivemos, de ter acesso aos professores, poder conversar com as pessoas, ser uma coisa menor. Eu quis voltar para Paraíso pela minha filha, em princípio. Para ela poder estudar em um lugar descente. Na época, minha esposa viu uma matéria sobre a escola onde já havíamos matriculado nossa filha, em Porto Alegre, sobre um aluninho que havia levado a arma do pai para a escola. Não atirou em ninguém, mas ficamos muito assustados com aquilo. Falamos: vamos mudar para o interior.

A ideia de deixar uma carreira construída o assustou?

Pensei: interior? Vou abandonar um projeto musical de nove anos? Mas eu já estava um pouco cansado de estrada. É tudo muito caro, se ganha muito pouco, é muito difícil de viver da música. Na época, eu já escrevia para duas revistas de São Paulo, Ética Cristã e Música Cristã e Sonorização. Uma teológica, outra falando da música gospel e de equipamentos. São coisas que gosto e estava sendo financeiramente bom, percebi que teria a possibilidade para escolher um lugar para ir.  Falei para minha esposa: vamos para Paraíso, é uma mudança radical, mas vamos ficar perto de minha mãe. Vivi dezoito anos longe de minha mãe, Márcia Cardoso, professora de Inglês. Poderia estar mais perto de minhas irmãs, também. Porto Alegre é um lugar muito distante. O próprio Humberto Gessinger tem uma música que fala: longe demais das capitais. É um lugar distante e que se isola, tem um quê de outra nação. Existem fronteiras entre o Brasil e o Rio Grande do Sul, que o faz parecer muito longe. Eu me sentia muito longe, lá, e minha família se sentia muito longe de mim, aqui.

O que você faz atualmente em Paraíso?

Quando cheguei a Paraíso, eu tinha o trabalho com as revistas, mas durou só até março. A razão de eu ter decidido mudar, foi porque eu tinha esse emprego, mas perdi. Em julho, o pessoal da Revista Expressão Livre me procurou. Comecei a me dedicar, a escrever. Já estou na sétima edição. Terminaram as eleições, a Heloísa nos deixou, e assumi a parada. Estou muito contente, aprendendo demais. Porque eu sou jornalista, ok, mas eu entrei nessa jogada. Na verdade, sou um blogueiro, tinha um blog muito visitado, que tratava de assuntos da cristandade contemporânea. Então, o editor das revistas me ligou, chamou para trabalhar, me deu muitas orientações. Ele é jornalista, professor de Língua Portuguesa, muito conceituado dentro da cena gospel. E fui contemplado no finalzinho da regra que dava MTB para o cara que tinha um trabalho. Fui ao Ministério do Trabalho, sem a menor pretensão, para ser bem sincero. E virei jornalista. Estou aprendendo, não escondo de ninguém. Eu fugi da escola, se tiver que fazer um curso, não faço, não. Eu leio, procuro me informar, converso bastante, falo muito, e vou aprendendo.

Você trabalha em Paraíso com música também?

Como já disse, vivi vários anos da música, mas era um trabalho autoral, só cantava músicas minhas. Mas eu cresci ouvindo música popular brasileira, música internacional, minha mãe é apaixonada por música. Herdamos essa paixão. Minha sogra sempre me falou: você canta tão bem, por que não vai tocar nos bares? Mas eu não gostava da ideia. Para ser bem franco, acho que era um preconceito meu. Eu achava que estava em outro patamar, tinha um trabalho meu. Mas vi que era uma bobagem, pois sempre admirei o músico de bar. Aqui, meus amigos começaram a me falar para tocar. Um deles foi o Júlio Caleiros, que é meu amigo há muitos anos, também o Guinho e o Péricles Caldeira Pereira, que foi o cara que me lançou. É músico conhecido na cidade, já deu aula pra muita gente, foi guitarrista do Pólvora Vermuth. Então, a fim de compor a renda familiar, fui. Falaram que dava dinheiro, mas descobri que não dá muito, não, porque há muitos músicos e pouco lugar para tocar. Paraíso tem bons músicos de bar. Então, estou recomeçando.

Por que recomeçando?

A verdade é que minha história como músico de bar começou há mais de vinte anos. Em 92, eu já tocava em Paraíso, era baterista. Toquei com uma dupla sertaneja, o João Rosa e Robmar, pai e filho. O guitarrista da banda era o Marcos, da dupla Marcos e Yago. Já era baterista, mas a descoberta como cantor e compositor veio no tempo da igreja, quando me redescobri. Hoje, voltei a tocar músicas que havia esquecido e está sendo muito bom. Estou crescendo musicalmente absurdamente. Eu fiquei parado no tempo, pois estava em uma zona de conforto. Para a música do bar, você depende de conseguir cativar as pessoas que estão no momento familiar delas, comendo, bebendo, batendo papo. Eu toco tentando capturar uma reação. É muito bacana quando a pessoa olha nos teus olhos, te dá um sorriso, um aplauso.

Você está lançando um novo trabalho?

Eu e o Dil Mello lançamos, neste mês de fevereiro, um EP com cinco composições nossas gravadas aqui mesmo em Paraíso. O projeto chama-se Renascença e é uma iniciativa bastante experimental, com violões, loops e pads de teclado. Traz letras e poesias relacionadas com fé e espiritualidade, de forma não religiosa, mas íntima e pessoal.

Qual são suas impressões de Paraíso, vinte anos depois?

Paraíso é um lugar místico, habita nas recordações mais legais do meu tempo de moleque, de minha loucuras, que na época foram difíceis, me trouxeram prejuízos, mas hoje são legais, porque eu venci. Eu tive muitos amigos que não venceram, vemos alguns que ficaram e enfrentam há vinte anos problemas como os que enfrentei. Ficaram como na série The Walking Dead. Estar aqui é muito gostoso. A cidade tem suas particularidades de cidade de interior, de grandes cafeicultores, de homens muito ricos, mas de um disparate social muito grande. Paraíso tem o IDH muito elevado, mas muito de sua renda per capta vem de poucos. É um lugar bonito, gostoso, acolhedor, mas de um disparate social muito grande. Não vejo como uma cidade que promova a evolução para muitas pessoas. Vi alguns amigos que evoluíram, mas outros que ficaram do jeito que estavam. Acho que isso é uma coisa do interior. Parece que algumas pessoas pararam no tempo. Para mim, que venho de fora, é uma delícia ver pessoas que parecem que estão do mesmo jeito de quando saí. Parece um universo paralelo em que estou entrando. Por outro lado, penso que precisamos evoluir. Paraíso perde muito com isso. Não é uma cidade progressista. Eu não vejo progresso, vejo crescimento. Nos bairros, a cidade está se espalhando, mas acho que precisava progredir mais.

Em sua opinião, como promove-se progresso?

O progresso tem início em uma coisa muito simples, tecla que bato com muito orgulho: a cidade precisa de cultura. A cidade precisa de teatro, de cinema. Há o cinema que tem um projeto muito bacana, mas falo de ter cinema na praça, colocar o povo para assistir alguma coisa diferente, nova. Precisa de projetos, de uma feira do livro, juntar as pessoas em torno disso, estimular a crescer, a descobrir que há muito mais do que o que se toca na rádio, do que se vê na televisão nos canais abertos. Existe um mundo enorme que pode ser vivido aqui. Para se conhecer o mundo a pessoa não precisa viajar. Precisa se conhecer bem, conhecer bem o seu quintal, seu potencial. É um povo capaz, muito trabalhador, mas precisa progredir. Não falo de dinheiro, não acho que leve ao progresso. A cidade é realmente carente de uma cultura maior.  Evoluir nesta questão. Até mesmo, pegar as particularidades da vida no campo e transformar em algo melhor, mais bonito. Olho para a Estação Mogiana e vejo uma feira do livro, um festival de bandas, manifestações culturais do povo, gente que pinta, que desenha, que faz camiseta, toca sua música, seja qual for. Precisávamos crescer, pois nesse sentido Paraíso não progrediu. Pelo contrário, antes aconteciam mais coisas aqui. Precisávamos resgatar os valores principais, porque a cidade tem dinheiro. É uma questão de avaliar bem o que poderíamos fazer de melhor por nossa cidade.

O que você está sonhando hoje para teus filhos?

Eu não acredito muito no dinheiro. Eu preciso de dinheiro, que é o ingresso que me permite entrar em lugares e adquirir coisas. Então, não sei se terei condições de dar a melhor escola, o melhor ensino, o melhor preparo que o dinheiro poderia dar. Quero que meus filhos vejam em mim e na mãe deles exemplos de luta, de honestidade, de sinceridade. Não somos perfeitos, mas procuramos fazer o melhor que podemos. Procuramos mostrar isso para eles. Às vezes, passamos por dificuldades, mas quero muito que eles sejam boas pessoas. Estou trabalhando hoje minha vida para que meus filhos vejam em mim um modelo de pessoa boa, que procurou fazer o bem dentro de cada momento. Um dia fui pastor corporativo, trabalhei para uma corporação de igreja e, naquele momento, fui o melhor pastor que eu poderia ser. Quando deixei de ser este pastor “corporativizado”, passei a servir as pessoas. Há pessoas que me procuram até hoje para falar de problemas, me ligam de vários lugares do Brasil, me procuram no Facebook.  Enxergam em mim ainda aquele pastor e não deixo de servi-las. Eu queria que meus filhos vissem isso em mim e na mãe. Nós procuramos ter a consciência limpa, tranquila, e procuramos fazer o bem. Seja através da arte, da música, do jornalismo. Minha esposa é artesã, além de instrutora de Língua Inglesa. Faz trabalhos bem legais de crochê, chamado amigurumi, arte japonesa muito bacana. Há o jornalismo, que é uma porta que Deus abriu para eu poder me expressar e fazer parte da sociedade novamente, através do mercado de trabalho. Eu era um músico gospel, e o jornalismo me abriu novas portas. Isso foi um pedido que fiz para Deus. Quero que meus filhos vejam isso: o pai é pobre, mas lutou, procurou fazer o bem, tentou fazer a coisa certa, do jeito dele. Eu luto para que “meu jeito” seja respeitado. Todos que me conhecem falam: o Rafael tem o jeito dele, mas é um cara bom. Essa é a virtude que quero passar para meus filhos.


Avivamento...


Deus vive momentos conosco. Algumas vezes, parece que Ele está tão perto e outras, só observando de longe. Vivi alguns momentos espantosos com Deus e outros de profunda quietude. Foi assim que descobri que Deus está conosco na vida, no dia a dia e passei a ter mais segurança pra estar aqui neste mundo transitório. 
Aprendi que devo me manter fiel com minha consciência diante dEle pois sei que, em qualquer momento, Ele pode voltar com força, poder e juizo.
Reflitamos nisto, pois o avivamento é uma idéia real!

Rafael Cardoso