Congregar, o que é isso?
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Muito se fala em congregar, entre os crentes! Esta é
uma mensagem que vem sempre cerca com tons de advertência, uma reprimenda que é reverberada por todos os
cristãos, emoldurada sempre por um aspecto de severidade no rosto de quem a prega.
Não raro, se diz “não
deixeis de congregar, como é costume de alguns”, citando que os “alguns” são a turba
dos desviados, os quais, não estão entre nós, mas se voltarem, ajoelharem-se e
pedirem perdão serão aceitos, pois nós somos o povo de deus e sua santa amada
igreja na terra, portanto detentores das chaves do perdão e da reconciliação.
Me poupem!
Há uma aura de autoridade nisso tudo, talvez
até autoritarismo. Mas, convenhamos, está escrito e se escrito está, então assim
é. Não?!
Desmistificar é preciso, necessário,
fundamental para que possamos ser conduzidos a uma vida de liberdade. Liberdade
que é uma virtude quase utópica nos rincões evangélicos da atualidade, pois a
mesma só se encontra no papel fino do Livro Preto, na língua carismática do
evangelista eloqüente e distante da vida prática das congregações.
Em minha opinião, é um engano achar que as
congregações congregam, ou melhor, que se congrega quando se vai na
congregação.
Entenda algo importante: ir ao culto não é
congregar! Ir ao culto, como o próprio nome já diz é cultuar, realizar um
ritual.
O mais complexo nisso tudo – em minha opinião
- é que a revelação deixada por Jesus é que Deus, seu Pai, nosso Pai, não é
Deus de rituais. Holocaustos e sacrifícios vétero testamentários já eram
rejeitados por YHWH - nome do Deus dos judeus. Na Nova Aliança (entenda de uma
vez por todas que quando se diz Nova, quer dizer que a Velha já era), está
descrito que Deus não mora em templos que os homens constroem, que não pode ser
encontrado na cidade santa, nem no monte sagrado. Onde está Deus, então?
Deus está escondido nos relacionamentos com
seu novo povo, sua família na terra.
Pra entendermos isto, devemos abrir nossas
mentes pro fato de que Ele agora não é meramente Deus, pois Jesus, o nosso Messias,
disse que quando formos nos reportar a Ele, devemos chamá-lo de Pai. Agora, não
é a relação de uma divindade e seus adoradores. Agora a convivência se dá de
Pai para filho! Que maravilha, não acha? Ele é nosso Pai!
Por entender isto com tanta força dentro de
mim, rechaço todo ensinamento que me force a ver Deus como YHWH e a mim mesmo como
Judeu. Rejeito toda teologia que tente me convencer a cultuá-lo através de um
ritual, seja com músicas, com incensos, com orações, rezas, correntes,
liturgias...
Até poderia assumir que não veria nada de errado em se cultuar a
Deus, desde que fosse da maneira correta. No entanto, o que vimos fazendo em
nossos cultos nos finais de semana são na realidade verdadeiros espetáculos
de engano.
Se Deus mora em mim, porque devo ir encontrá-lo
em um templo ornamentado? Qual a razão de se ir a um lugar especial para encontrar-me
com meu Pai? Meu Pai mora comigo!
Ora, se aquele a quem você denomina deus e pai mora
num lugar que você mesmo preparou com suas mãos, ou no meio dos ‘louvores’ mal tocados
que você executou fazendo cara de dor, ou se ele tem a forma de uma chama em
cima de uma caixa coberta com papel laminado, então, seu deus não é o mesmo que
o meu.
Congregar não é nada disso! Congregar é ser
habitação de Deus, conviver com Ele como Pai e compartilhar dessa vida com
nossos irmãos. O que vem acontecendo em nossos cultos é ritual e Deus não
habita em rituais. O que vem acontecendo em nossos cultos é manipulação e
engodo, sofisma e emulação do ato de congregar.
Um exemplo até bobo disso é quando o líder
manda as marionetes olharem pro lado e dizer que amam a pessoa de perto. Meu
Deus, que vexame, que mentira, que teatro ridículo. Não acredito e não aceito
isto como congregar!
Espero que todos entendam que não é uma
generalização (sempre me cobram isto), mas o fato é que congregar, da
perspectiva do Deus, Pai de Jesus envolve relacionamentos verdadeiros e
fraternos, ou seja, tem que ser como uma família.
De minha parte, revelo a
todos sem medo de errar que foi somente após sair do culto e abandonar o
ritualismo que encontrei a verdadeira família de Deus. Mais de 95% dos relacionamentos que tive na estrutura do culto (que se tornou uma versão virtual da vida, tentando emular as virtudes do amor, da compaixão e do respeito, através de momentos de êxtase, já passaram, perderam-se. Já as pessoas com quem convivi na vida real, que frequentaram minha casa, com os quais pude viver de forma transparente e sem as máscaras interesseiras do ritualismo, todos são meus amigos.
Acreditem, a família não está nos templos,
nas cidades santas, nem nos montes sagrados em meio às orações. Ela está nas
ruas, nos valados, eirados, bares, casas... onde Jesus está, ou seja, por aí!
Rafael Cardoso