A transcendência do espírito


“Entretanto, o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas virtudes não há Lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos”.
Paulo de Tarso aos Gálatas.

Limitado ao corpo e ao raio de acesso de uma alma humana, o espírito está como que preso a uma jaula de carne e osso, contido em um invólucro incapaz de revelar integralmente em seu exterior a dimensão verdadeira de sua luz e influência.

Destinado a coisas enormes, maiores do que a própria existência limitada do ser visível, tangível, o espírito pode transcender a própria existência frágil da carne, excedendo seus limites.

Em antítese à vida no espírito, a vida na carne - segundo explicado pelo apóstolo de Cristo no fragmento acima citado - deve ser entendida como aquela que é pautada pelas paixões e desejos humanos. 

Segundo interpreto, paixões e desejos humanos, referem-se à corrupção, ou seja, a deterioração da destinação altaneira de uma vida movida por virtudes espirituais. Uma vida pautada na corrupção limita o ser humano à inveja, às inimizades, às iras, às manipulações, entre outras práticas essenciais que demonstram um desvio da conduta humana.

Viver com base no espírito é viver para o bem, é viver pautado no amor (maior de todos os princípios), é viver em fidelidade aos maiores desejos da civilização, os quais devem sempre conduzir o ser humano e todas as sociedades à igualdade, à generosidade, à lealdade e à paz.

Uma vida no espírito transcende, assim como uma vida na carne transparece. Enquanto a primeira influencia para o bem, a outra influencia para o mal. Uma promove, apoia e justifica, a outra denigre, destrói e prejudica.

Rafael Reparador

Utopia da felicidade


Hoje eu troquei alguns carinhos com meu bichinho de estimação, me senti feliz! Troquei também duas ou três palavras pelo facebook com uma pessoa amada que me produziu um sentimento maravilhoso.
Percebi na pele e no coração do quão pouco precisamos pra nos sentir bem.
Para muitos a felicidade é uma questão que engloba a riqueza, a honra e a glória. No entanto, segundo o pensamento de Aristóteles, a felicidade é uma atividade da razão que deve ser buscada constantemente. "Ter sido feliz ontem não significa ser feliz hoje", frisa o filósofo que determina que a felicidade é atingida dentro da comunidade humana, ou seja, a cidade.
Estive numa palestra do atual senador e ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica e ele falou, entre outras coisas, da necessidade de nos unirmos na busca por uma sociedade feliz.
Mujica clamou por um ideal de Integração entre as nações da América Latina, num projeto comum que visasse nosso crescimento econômico e, por consequência, a felicidade das pessoas. Na visão do político, a construção da civilização passa indispensavelmente por uma visão social gregária, na qual a sociedade, que é a própria civilização, seja construída por todas as partes envolvidas visando um futuro melhor para todos. 
"O homem é um animal utópico", disse Mujica, compartilhando seu sonho de crescimento feliz, onde a solidariedade seja a base de uma construção internacional. De fato, não existe outro meio de se apontar para um futuro melhor se não conseguirmos enxergar uma civilização que aprenda a desenvolver em si os valores da cooperação.
Utopia foi um país imaginário, criado por Thomas Morus, escritor inglês (1480-1535), no qual um governo, organizado da melhor maneira, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz.
Do grego “ou+topos”, utopia significa “lugar que não existe” e é um sistema ou plano que parece irrealizável.
Contudo, sonhar é a base de tudo o que o Homem constrói, pensando sempre num futuro melhor e, mesmo que pareça impossível, todos os esforços do presente devem estar sempre alicerçados na esperança por uma civilização cada vez melhor, mais justa e mais feliz.

Rafael Reparador

Saudades do rincão


Esperando que a água esquente
Parado em frente ao fogão
Pensamentos me vêm à mente
Amenidades, coisas sem noção.
Líquido fervendo ali adiante
Chaleira e pensamentos em ebulição
Em câmera lenta repenso minha vida errante
Enquanto preparo o chimarrão.
Lavo a cuia com a água escaldante
Ponho a erva, bato o mate com a mão
Sorvendo a bomba com o líquido verdejante
O amargo e o fervente se misturam as lágrimas:
- Está quente?
- Não, são apenas saudades do rincão.

Rafael Reparador