Malaquias - Questões em meio à Apostasia
O livro do profeta Malaquias é uma advertência voltada principalmente aos ministros, aos chamados que ocupam as vagas do sacerdócio. Não que não se adéqüe ao “laicato” em geral, mas esta carta profética foi dirigida de uma forma especial ao clero hebreu, como um chamado emergencial de volta às primeiras obras.
Sabemos (ou talvez não) que esta diferença entre sacerdócio e leigos não é uma verdade bíblica que se aplica aos nossos dias, embora seja algo muito comum tradicionalmente nas relações religiosas, contudo, quero propor uma leitura atenciosa, tanto para os ministros ordenados e titulares quanto para os crentes comuns, afim de que todos possamos compreender, de coração aberto, as nossas perplexidades em tempos esfriamento espiritual.
Encontramos em Malaquias, 4 indagações feitas pelo povo diante da reprovação de Deus, vamos vê-las, procurando entender o objetivo central desta mensagem profética que, certamente, se adéqua aos nossos dias.
1) Em que enfadamos a Deus?
“Enfadais ao Senhor com vossas palavras, e ainda perguntais: Em que o enfadamos?”
Mal. 2:17
Causamos cansaço em Deus quando deixamos de vivenciar com vigor e sinceridade o nosso serviço a Ele. Quando abandonamos a piedade, o amor e o altruísmo, virtudes que devem permear nossas atitudes no serviço do Reino, passando a exercer o sacerdócio por obrigação posicional, tradição ou por outros tipos de interesses, estamos oferecendo ao Senhor uma oferta ruim, abominável (Mal. 1:8, 13).
Isaías adverte que Deus está cansado de nossas festas e reuniões solenes misturadas a um coração não sincero.
Quando deixamos de acreditar em sua justiça, em sua Palavra, em suas promessas e mesmo assim continuamos a exercer nossos rituais religiosos, isso cansa ao Senhor, o entristece, o irrita.
Isto é enfadar a Deus e ainda nos perguntamos: no que te enfadamos?
2) Em que havemos de tornar a Deus
“Tornai-vos para mim, e eu tornarei para vós, diz o Senhor dos Exércitos. Mas vós dizeis: Em que havemos de tornar?”
Mal. 3:7
Devemos voltar à prática das primeiras obras! Nossa decepção pode nos tornar em profissionais do ministério e Deus, que vê corações, não pode receber o que estamos fazendo se não for feito com sinceridade. Precisamos voltar!
Pedro, em profunda crise pessoal, após a morte de Jesus, havendo negado ao seu amigo perante o povo perdeu o foco, saiu da visão, mas o Senhor apelou ao seu retorno, dizendo: apascenta meus cordeirinhos!
No que havemos de tornar a Deus?
As respostas para isso estão em Malaquias 2:5–7, que descreve a aliança de Deus com Levi e sua descendência:
a) Verso 5: “Minha aliança com ele foi de vida e de paz, e eu lhe dei ambas para que me temesse; ele me temeu, e assombrou-se por causa do meu nome”.
A aliança de Deus com seus ministros é uma aliança de temor, de quebrantamento, de humildade. Se perdemos aquele friozinho na barriga perante o serviço sacerdotal, é sinal que devemos voltar a sentir isso novamente, pois faz parte de nossa aliança com Ele.
b) Verso 6 a: “A Lei da verdade esteve na sua boca, e a iniqüidade não se achou em seus lábios”.
Guardar e manter a pureza da revelação como um verdadeiro tesouro em nossos corações, não cedendo à tentação das conversas malignas e escarnecedoras. É muito comum perdermos o temor na jornada e passarmos a falar coisas que já não falávamos há muito tempo. Palavras torpes, que haviam sido riscadas de nosso vernáculo, agora retornam e passam a eclodir em nossos lábios em momentos de conversações não dignas, que desagradam ao Espírito de Deus.
c) verso 6 b: “Andou comigo”.
Devemos retornar à intimidade com nosso Deus, pelo Espírito. Se perdemos esse acesso ao Santo dos santos e já não mais entramos numa dimensão de relacionamento de profundas revelações, de calorosa convivência com Ele, é tempo de retornar. Isso é parte de nossa aliança, temos o direito e o dever de permanecer nesse lugar secreto, reservado aos seus ministros.
d) verso 6 c: “apartou a muitos da iniqüidade”.
Livrar as pessoas de seu mau caminho significa dar continuidade no cumprimento da evangelização e do discipulado. Parar com essa prática é inadmissível! Deus quer que desviemos os ímpios do mau e que continuemos a trazer às vidas ao caminho da salvação, volte à aliança que foi firmada com Cristo em suas últimas palavras, fazendo discípulos em todos os lugares, não nos permitindo respeitar fronteiras internacionais ou denominacionais.
e) verso 7: “Pois os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos”.
O ministro deve se portar perante sua geração como um verdadeiro embaixador de Deus. Sua palavra deve ter autoridade profética e apostólica, poderosa para exercer o ensino de maneira sobrenatural, demonstrando e estabelecendo o Reino de Deus neste mundo.
“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas”.
Mal. 3:8
Roubamos a Deus quando não estamos comprometidos financeiramente como sustento e a manutenção de suas organizações na terra.
Quando a missão transcultural pára; quando a coleta em favor do pobre e do desfavorecido pára; quando não compartilhamos dos nossos bens com os que nos ensinam a Palavra... os recursos financeiros e humanos para a realização e manutenção disso tudo é nossa incumbência.
4) O que temos falado contra o Senhor?
“As vossas palavras foram agressivas para mim, diz o Senhor. Mas vós dizeis: Que temos falado contra ti?”
Mal. 3:13
Quando nos decepcionamos com Deus, falamos coisas sem sentido! Quando o tempo parece ser demais diante de nossas expectativas, ficamos ansiosos e, muitas vezes, culpamos a Deus. O ser humano tem a tendência natural de sempre culpar a outra parte envolvida numa associação quando algo dá errado. Exemplo disso são os casamentos, as sociedades que se dissolvem por desacordos e até as igrejas, que se dividem por causa dos “outros”, pois eles estão sempre errados, nunca nós.
Ao ver a glória do ímpio e o sucesso dos maus em paralelo às nossas lutas que parecem não ter fim, logo nós que procuramos lutar baseados em princípios piedosos e sinceros, nos sentimos abandonados e esquecidos por Deus.
É aí que, humilhados e chateados, falamos contra Ele, culpando-O por fazer vista grossa diante de nosso insucesso.
Isso tudo é resultado do abalo de nossas convicções, nós que esperamos “aqui e agora” sua manifestação gloriosa em nosso favor.
Enfim, toda essa clássica murmuração se dá quando nos afastamos da paixão, do fogo, da alegria infantil das primeiras obras. Quando nos achegamos ao Senhor para servi-Lo, fazemos votos de ingenuidade, as vezes, dizendo não esperar nada em troca mas, com o passar dos anos, nossas motivações vão sendo atormentadas pelas lutas e adversidades comuns ao ministério.
É aí que deveria valer a força de nossa moderação e esperança, em lugar de nos entregarmos a palavras de desânimo, carregadas de justiça própria.
Deus não muda, nós sim! Por isso, devemos adquirir a nova tendência de acreditar nEle de forma incondicional, não reputando nossos infortúnios a Ele, pois a ninguém prova, não é mau, mas bom, misericordioso e, aleluia, compassivo com seus filhos, ministros e amigos.