Éden, a verdadeira Pandora

Há um plano original, um projeto perfeito no qual Deus definiu linhas gerais para um relacionamento profundo, real, saudável e sincero com a humanidade.

No plano do primeiro Adão, Deus estabeleceu elementos e situações que favoreciam sua intimidade com seu filho e, ainda que o mesmo tivesse perdido de uma vez por todas o benefício desse acesso por causa de seu pecado, em Jesus, o segundo Adão, essa via sobrenatural de relacionamento com a humanidade é reinaugurada.

O planeta de Pandora, do filme Avatar, me inspira e relembra que aquele espaço místico criado por Deus ainda está acessível a todos os que desejam desfrutar de uma vida espiritual em profundidade.

Vamos estudar um pouco algumas qualidades que haviam no Éden do Gênesis e criar um paralelo entre aquela dispensação e a nossa, a fim de podermos aprender como desfrutar de tudo o que Deus tem disponibilizado a seus filhos neste tempo da Graça.

1) Um local adequado para se viver

Adão tinha o Éden, nós temos a possibilidade de uma vida no Espírito, na qual Deus fornece a condição ideal para que possamos vencer as tentações do dia a dia.

Uma das marcas da igreja de nosso tempo tem sido a vida carnal! Temos dado muito mais importância para as aparências exteriores, tal como os fariseus de outrora, do que uma vida interiormente ligada á perfeita vontade de Deus.

Paulo disse em Gálatas 5:16: “Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne”.

É possível viver assim? Se está escrito, então é!

Temos ao nosso dispor o ambiente profético inteiro, o qual monta um quadro favorável a cada crente, abrindo o entendimento sobre coisas sobrenaturais, trazendo o conhecimento de acontecimentos futuros, abrindo nossa inteligência a uma disposição mental renovada e santa.

Filipenses 4:8 diz: “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”.

Vemos na história que, após ser expulso, o Homem perdeu o acesso ao Éden, cujas entradas foram ocultadas por querubins.

Porém, Mateus 18:11 diz: “Porque o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido”.

Esta foi a maior missão do Senhor! Reconciliar novamente a humanidade com Deus, através de um vínculo espiritual, um lugar de intimidade, um jardim secreto e bem guardado, no qual o Pai vem ter um relacionamento familiar com cada filho.

Este lugar é meu e seu! Nós temos acesso a ele, pela vida no Espírito, pelo caminho que Jesus reabriu no véu de sua carne, conforme diz a carta dos Hebreus.

Consumamos dizer: mas Adão tinha tudo, porque ele fez o que fez? Mas hoje eu te digo, nos também temos tudo. Resta-nos reconhecer que andar em Deus, pela fé, é andar numa vida espiritual, provando dos suprimentos necessários para nossa digna existência, com conforto e abundância.

2) Um trabalho, uma função

Recebemos algo precioso de Deus e temos que cuidar bem dele. Adão estava diante de um jardim cheio de delícias e preciosidades, o qual continha tudo o que lhe era necessário pra viver uma vida de santidade, de pureza, de abundância, de paz, saúde, entre tantos outros benefícios.

Na vida do Espírito, para a qual fomos chamados a viver, temos acesso a todas essas coisas e muitas outras inumeráveis, mas, como crentes, devemos atentar ao nosso chamado de zelar pelo ambiente que o Senhor nos proporcionou acesso, em sua presença.

A Palavra diz que Adão lavrava e cuidava do Jardim.

Lavrar e cuidar nossa vida espiritual significa cultivar nosso lugar de relacionamento com Deus, tratando-o com muito zelo e carinho, dando a devida importância que esse lugar deve ter para nós.

A igreja perde a cada dia um pouco mais de sua vida devocional, trocando-a por programações que não conduzem à intimidade.

Quando abrimos mão de uma busca pessoal, de um trabalho individual que conduz à presença de Deus e trocamos isso por momentos de atacado, estamos caminhando, na verdade, no rumo oposto ao que a Palavra nos ensina.

Geralmente, não temos sido ensinados nas igrejas a cultivar uma vida devocional, pelo contrário, temos aprendido que as pessoas devem deixar essas coisas para os sacerdotes profissionais, os quais, teoricamente, lavram e cuidam de seu Jardim pessoal, trazendo seus frutos aos demais irmãos da fé, não raramente, cobrando por isto.

O acesso ao Jardim é para todos e sua responsabilidade é individual!

3) Regras

A Lei é a materialização da vontade de Deus para o Homem, portanto, entendê-la é de fundamental importância para que possamos andar em harmonia com o Pai.

Note que na Antiga Aliança, foi concedida uma série enorme de regras de procedimento que partiam do decálogo e que foram entregues aos judeus como condição para que andassem em obediência a Yaweh.

Na Nova Aliança, celebrada pelo sangue de Jesus, vivemos na condição da graça, ou seja, recebemos o favor sem merecimento de ser reconciliados com Deus.

É o que diz Efésios 2:8: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”.

Contudo, existe uma regra sobre a qual todos os filhos de Deus devem andar nesta Aliança.

Hebreus 10:38 fala que o justo deve viver pela fé, sem nunca retroceder, sob pena de desagradar a Deus.

Antes disso, no versículo 16, está escrito: “Esta é a aliança que farei com eles. Depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seus corações, E as escreverei em seus entendimentos”.

Talvez o que eu vou propor aqui seja algo novo e até chocante para você, mas quero arriscar dizê-lo assim mesmo.

Em cada dispensação, era e geração o povo escolhido recebeu de Deus orientações peculiares a seu tempo. Adão não podia comer do fruto da Árvore do Conhecimento do bem e do mal, os Judeus deveriam seguir a Lei Mosaica e este texto de Hebreus diz que “depois daqueles dias...”. Que dias?? Os nossos dias! Neste tempo, Deus passa a instruir seu povo através do Espírito Santo, no lugar e circunstância preparados numa vida de devoção, conforme os padrões ditados pelo modelo de vida de Jesus Cristo.

Isso quer dizer que a Lei de Deus não vem mais através de ensinos passados tradicionalmente, como normalmente aprendemos, mas através de um ensino sobrenatural, que flui diretamente do coração do Pai ao coração de cada filho.

Sobre este tempo profético, Jeremias 31:34 acrescenta: “Não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles...”.

Este modelo não anula a autoridade apostólica, profética ou pastoral de quem quer que seja, desde que esses ministérios estejam em plena comunhão e submissão ao único Deus, visto que Jesus sujeitou todas as coisas para que Ele seja tudo em todos.

Qual é a regra, portanto?

A regra é obedecer pela fé a voz de Deus que ecoa dentro de você. Muitos poderão questionar a originalidade da voz que lhe fala ao espírito, poderão até mesmo dizer que está é uma doutrina anarquista e rebelde, contudo, a Escritura fala deste tempo e acredito que ele chegou, em que aprenderíamos a Lei diretamente de Deus e devemos acreditar que Ele fala diretamente conosco, pois do contrário, temos vivido um Evangelho de mentira.

Lembrando sempre que regras devem ser obedecidas e se esta regra que estou mostrando a você agora vier de Deus, então, deixar de obedece-la pode constituir em decidir andar pela via confortável de seu próprio raciocínio ou tradição, ou seja, comer do fruto da Árvore do Conhecimento do bem e do mal. Daí danou-se!

4) Companhia e ajuda adequada para a jornada

Deus notou que não era bom que Adão andasse e vivesse sua jornada sozinho, por isso, resolveu colocar alguém em sua vida, que lhe fosse leal, tivesse identificação e harmonia com ele.

Com certeza Deus era o melhor amigo que Adão poderia ter, mas o próprio Criador reconhecia que, embora tivessem a mesma imagem e semelhança, sua amizade não era o bastante para o Homem, pois viviam a vida normal e cotidiana em circunstâncias diferentes.

Talvez alguém mais espiritual se sinta orgulhoso em dizer: não preciso de mais ninguém, pois Deus me basta!

Isto parece lindo e vindo de alguém com muita fé, contudo, não é um princípio da natureza que Deus estabeleceu para o ser humano.

Deus viu que o homem precisava de alguém especial e designou que este alguém fosse idôneo. A palavra ‘idôneo’ quer dizer apto e se refere a alguém que é considerado adequado e capaz para o desempenho de uma obra ou missão.

A 4ª condição oferecida por Deus para que Adão vivesse e todos os chamados possam viver em plenitude espiritual é a companhia leal de gente capacitada para dar apoio no desempenho da missão, ou seja, gente idônea.

Um crente nunca deverá andar sozinho, pois este não é o propósito original de Deus. Sozinhos, ficamos perdidos e desorientados e, mesmo que tenhamos uma vida de devoção íntima e direta com Deus, isso não será o bastante para desempenharmos o projeto para o qual fomos predestinados.

A carta aos Hebreus nos exorta a não deixar a congregação, para que possamos exercitar a consideração mútua e nos estimular às boas obras e ao amor Hb. 10:54, 25. Também está escrito que devemos oferecer sacrifício de louvor, através da confissão de seu nome através de nossos lábios, não nos esquecendo, porém, da beneficência (generosidade) e da comunicação (que é compartilhar da vida comum uns dos outros). Estas coisas unidas consistem em sacrifícios agradáveis a Deus Hebreus 13:15, 16.

5) Um projeto de vida – Visão

Gênesis 2:23 – 25: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam”.

Em seu sentido original, o casamento fez duas pessoas diferentes se fundirem numa só, ou seja, ele representa a união de culturas, criações e personalidades diferentes em um só projeto.

Esta relação possui um significado espiritual referente à relação de Cristo com sua Igreja, conforme vemos no texto de Efésios 5:22-32.

Nele, Paulo diz que devemos nos sujeitar ao Senhor Jesus, pois Ele é o nosso salvador, o qual deu sua própria vida em nosso favor a fim de nos separar para pertencermos exclusivamente a Ele. Como Igreja, passamos a ser ossos dos seus ossos, membros do seu corpo, assim como Eva o foi para Adão.

Nos versículo 31 e 32, o Apóstolo conclui: “Por isso deixará o homem o seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da Igreja”.

Veja que Paulo está afirmando que a relação do casamento se tornou uma figura profética da espécie de relacionamento que temos com Cristo, em nossa vida espiritual.

Deixamos de ser cabeças de nós mesmos, abandonando a casa dos nossos pais – que significa abrir mão de nossas particularidades - e nos unimos em um só corpo com Ele.

Agora o homem pode realizar sua jornada pela terra com livre acesso ao lugar especial que Deus lhe preparou para ter intimidade com Ele, cultivando sua vida devocional, com poder de discernir o certo do errado e caminhando no rumo do cumprimento de sua missão e chamado, que se tornou seu projeto de vida, sua visão.

Um detalhe curioso e muito importante na vida do primeiro casal, o qual deve ser trazido à nossa realidade de vida na Igreja atual é que eles estavam nus e não se envergonhavam disso.

Creio que este símbolo pode ser profético para nossas vidas hoje e encontra um paralelo neo testamentário muito profundo em 1ª João 1:7: “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”.

Andar na luz é o mesmo que andar é o mesmo que andar desnudos uns diante dos outros, ou seja, sem reservas, sem mentiras, sem hipocrisia. Esta é uma das mais importantes e profundas práticas da vida de comunidade, a qual gera unidade, humildade, quebrantamento e purificação de pecados.

A visão é a concretização, o aumento e o estabelecimento da família de Deus na terra. Isto pode ser bem compreendido na missão de vida de Jesus, que foi transferida para nós, seu Corpo, que é a de ir por todo o mundo levando o Evangelho, fazendo discípulos em todas as nações.

Conclusão

Na experiência do Éden, Deus e Adão chegaram a um ponto extremo que ocasionou a separação entre eles. Esta história não teve um final feliz pelo fato de Adão ter feito exatamente aquilo que Deus o havia aconselhado que não fizesse.

Adão rompeu com Deus ao desobedecer sua regra direta!

Contudo, existe um mistério nesta situação que me salta aos olhos.

Deus advertiu Adão de que não comesse do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, pois do contrário, morreria.

Já parou para pensar que, de fato, Adão não morreu?

Podemos dar muitas explicações para definir esta inconsistência bíblica, tais como: a morte consiste na separação entre o homem e Deus; era uma morte apenas figurada; Deus, por sua onisciência, já estava preparado, blah, blah, blah... enfim, tudo isso é correto, eu creio!! Mas o fato é que Adão não morreu.

A vida continuou, algumas coisas mudaram, alguns benefícios se perderam, já não havia mais aquela inocência e o ambiente sofreu alterações, mas o fato é que a vida continuou.

Quero concluir minha reflexão sobre o Éden, com a mesma advertência dada por Deus, porém, da perspectiva de quem tem a experiência de Adão.

Se você deixar de cumprir com as regras de Deus, sobre as quais falamos de maneira apenas superficial acima, a morte entrará em você, mas provavelmente, você não morrerá instantaneamente. Já ouvi dizer que em tempos de avivamento, a justiça e o juízo de Deus são imediatos e implacáveis, como no exemplo histórico de Ananias e Safira, os quais ao mentir contra o Espírito Santo, foram fulminados perante os apóstolos.

Não posso definir isso, pois não é de minha competência. Agora, posso dizer que quando deixamos de ouvir a Deus e acatar suas regras, somos naturalmente afastados do lugar da intimidade, pois nosso pecado gera separação entre nós e Ele e, assim, perdemos o interesse em cultivar o relacionamento da amizade espiritual, nos voltando naturalmente aos objetivos que tínhamos ante de conhecê-lo. Os interesses e prazeres carnais voltam à tona, devida à decepção. Um abismo chama por outro! Não conseguimos mais nos relacionar com sinceridade e transparência com os irmãos e nossa visão, ofuscada, confunde-se em interesses pessoais e egoístas.

Isso tudo para quem é espiritual é sinônimo de morte.

Contudo, o que quero chamar a atenção com isto que estou escrevendo é ao fato de que após nos afastarmos de Deus, nos primeiros instantes não nos damos conta dessa avalanche de prejuízos, só percebemos que não morremos! Isso para muitos pode ser um sinalizador de que a Palavra mentiu, que as coisas não são bem assim e, finalmente, perde-se o temor, a fé, a convicção da veracidade da revelação. Enfim, Deus se torna relativo!

Qual é a proposta então?

Minha proposta é de que todos tenhamos o entendimento aberto quanto à nossa condição diante de Deus. Muitos que ainda vivem no ambiente da religião, grande parte ocupando cargos de liderança, estão caídos da presença de Deus. Não têm mais convicção na verdade divina, se afastaram do lugar da intimidade, repelem as relações de transparência, e só permanecem no âmbito ministerial por motivos egoístas, por ganância. Ou seja, morreram!

Vamos abrir os olhos!

rafa,

Na revolução

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