O choque do amadurecer cristão


Lá no finalzinho do Evangelho de João, há uma história cujo quadro, como consigo enxergar, é mais ou menos assim:

“Pedro estava pescando, correndo atrás, como se costuma fazer quando as coisas não vão bem no chamado ministério. Afinal, aquele o qual se acreditava ser o Homem enviado por Deus para mudar as coisas na terra, tinha morrido. Mataram o Mestre, o colocaram numa cruz e agora, tudo no que ele havia se empenhado em construir ruiu, tal como um castelo de areia detonado pela onda do mar.

Pedro, então, vai pescar! Mãos à obra, pois não há mais razão lógica de nos dedicarmos a essa causa do Evangelho, pois seu fundador morreu.

Game over!

Contudo, na tentativa de voltar ao antigo trabalho, mesmo que houvesse recebido uma palavra de que não seria mais pescador de peixes e sim de homens, ele era um chefe de família e como tal, devia sustentá-la, bola pra frente.

É aí que aparece Jesus, ressuscitado, na margem. Pedro, que estava pelado, todo desajeitado, coloca uma roupa e se joga dentro do mar, sai nadando que nem um louco, dando braçadas ao encontro do Mestre.”

Jesus, então, entra num diálogo simples, direto e ao mesmo tempo “deep” com seu discípulo.

Pergunta 3 vezes: Pedro, você me ama?

Desconcertado, não sabe como responder e, ainda com muita insegurança na voz e escolhendo bem as palavras, declara: Sim, eu amo você, Jesus!

O Pedro, outrora audacioso, cheio de força interior, convicto de suas ações e palavras, agora está diante do Messias, falando com um tom de voz diferente. Ele não tinha o mesmo ímpeto para dizer aquelas palavras tão profundas e comprometedoras que antes dizia tão facilmente.

O que mudou na vida daquele que dizia sem pensar: eu morro junto contigo; eu mato por você; eu sempre estarei contigo, o Senhor é quem tem as palavras eternas???

O que mudou foi o fato de que agora Pedro sabia o preço que envolvia o “seguir a Jesus, tomar a Cruz e negar-se a si mesmo”.

Dias antes, sentiu na própria pele o medo da perseguição, o terror de ser acusado pelos grandes líderes de sua religião e o perigo iminente de ser preso, ou até morrer “de verdade” por causa de Jesus. A situação havia saído da dimensão do discurso e tinha seguido a vias de fato.

Tenho com essa ilustração uma conclusão importante pros nossos dias. A Igreja de hoje está recheada de gente que brada demais, sendo extremamente discursiva e na hora do “vamo vê” não sei se irá permanecer firme com as palavras que disse.

Em nossos cultos, pessoas fazem votos, declarações, em meio ao louvor e adoração e à emoção que os envolve, dizem palavras pesadas de devoção só Senhor que dificilmente se estabelecerão.

Muitos dizem que irão às nações, por exemplo, que farão o que for preciso, que morrerão pelo Mestre, que abrirão mão de todas as coisas para segui-lo, tudo isso cantando nos cultos de domingo a noite.

Irmãos, quando iremos amadurecer?

Talvez quando tivermos a experiência amarga de vermos o quanto somos bons em nossos discursos, falando demais e agindo de menos, que somos, no fundo, no fundo, grandes migués espirituais, bradando palavras radicais de devoção e quando postos à prova, estamos nus, passando vergonha diante de Deus.

Na continuidade do texto, Jesus diz sobre Pedro, que ele se vestia e ia por onde queria quando jovem, mas quando fosse velho, outro o vestiria e lhe levaria por lugares que ele não gostaria de ir. Esta era uma definição da morte como a qual glorificaria a Deus e é uma revelação para nós nestes dias em que falamos mais do que fazemos.

Quando amadurecermos, quando deixarmos de ser meninos espirituais, será quando Deus estabelecerá plenamente seu projeto em nós e será quando a nossa morte, a nossa cruz, fará vivermos em nossas vidas a vida de Jesus e não mais a nossa própria vida.

rafa


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