Entrevista sobre o culto no bar


1 – O que é o projeto da igreja no bar?

A Igreja no Bar é fruto de uma busca por uma vida cristã mais identificada com a sociedade. Almejamos pela relevância de nossa mensagem de Jesus no mundo em que estamos inseridos e o bar, local onde as pessoas já vão para se divertir, buscar conforto com seus amigos, tomar sua cerveja e ouvir sua música, agora, está se tornando um lugar de encontro com uma nova possibilidade de vida, em uma proposta nova de espiritualidade, envolvendo um relacionamento direto com a pessoa de Jesus, sem escalas.

Entendemos o desejo do coração de Jesus em relacionar-se diretamente com as pessoas, indo além das instâncias e trincheiras criadas pela religião, as quais têm roubado a acessibilidade ao Senhor. Todos os dogmas e sacramentos humanamente estabelecidos acabaram se tornando grandes empecilhos para que um indivíduo pudesse participar da comunhão com o Corpo de Cristo

O projeto do Bar visa romper os muros de separação entre as pessoas e Deus, reconciliando através de um Jesus acessível e de braços abertos a todo homem, infiltrando a Igreja lá onde o mundo está.

2 – Como surgiu a ideia do projeto?

Um grupo de caras crentes começou a se reunir desde a metade do ano passado (2010) em busca da resposta a uma pergunta que tínhamos em comum: como podemos atingir as tribos emergentes urbanas aqui em Porto Alegre com o Evangelho?

Os “chutes” que demos como respostas nos conduziram a algumas atividades específicas, que visavam, além da ação social, a realização de shows onde não houvesse a caracterização de evento gospel e no qual pudéssemos nos misturar às cenas já existentes no underground local.

A partir do primeiro show, onde bandas de punk rock e HC de confissão cristã se misturaram a bandas do mesmo estilo, pertencentes à cena alternativa.

Esse show foi realizado no Entrebar, casa bem conhecida na região mais boêmia de Porto Alegre, a Cidade Baixa.

Naquela mesma noite, tivemos a idéia de iniciar uma reunião periódica, onde houvesse a pregação do Evangelho com simplicidade e sem a intenção de se demarcar o território em favor de nenhuma instituição religiosa. Pra nossa surpresa, as donas do Entrebar aceitaram e nos cederam o espaço para reuniões, primeiramente de 15 em 15 dias e ultimamente, temos nos reunido lá todas as semanas.

3- Quais são as preocupações/interesses dos participantes do movimento? Quais são as premissas defendidas e qual a pretensão do grupo?

Tudo o que queremos estar lá quando alguém aparecer precisando de algo que temos dentro de nós. A gente acredita de verdade que há uma vida plena em Cristo e que temos o poder de reconciliar pessoas com Deus, através disso.

Só estamos andando por fé, sem muita clareza de onde isso vai dar, mas sabemos que estamos lançando sementes num campo muito carente de iniciativas cristãs evangélicas.

É a nossa missão! Os resultados disso e os próximos passos a ser dados ficam a cargo daquele que é dono do futuro.

Nossa máxima evangelística é esta: Não temos grana, nem fama, mas temos um caminho. Venha conhecer o MUC.

4 – Como funciona a estrutura hierárquica? Vocês se consideram uma igreja?

Existem pessoas que naturalmente puxam a fila, mas há uma coisa boa nesse projeto que é o lance de não haver donos. Existe sim um sentimento comum entre nós - que não somos muitos - de que estar lá é uma dádiva cedida por Deus a nós e que estamos participando de algo especial, tendo a oportunidade de marcar vidas. Isto nos torna mais humildes e cooperativos, mutuamente.

Sobre nos considerar uma igreja. Não, não somos uma igreja, nós somos a Igreja!

5- Qual o embasamento bíblico para a realização do projeto? Aliás, o que você acha dessa cultura cristã, que procura achar “álibis” na bíblia para tudo o que fazem?

Acho que nossa base bíblica é a mesma que diz: “ide por todo o mundo e fazei discípulos...”.

O Bar faz parte desse mundo, então, vamos fazer discípulos lá também, por que não?

Sobre o lance dos álibis bíblicos, está escrito que e letra mata e o espírito dá vida. Vejo a interpretação da Bíblia com essa preocupação, pois ela não deveria ser usada como meio de imposição de limites, pelo contrário, deveria libertar as pessoas desses limites.

Parece-me que a falta de um conhecimento melhor e mais claro da pessoa de Deus revelada por seu Filho tende a nos tornar pessoas travadas, amedrontadas diante das possibilidades pecaminosas do mundo exterior. Contudo, está escrito que não recebemos um espírito de medo, mas de força, amor e moderação. Ou seja, uma vida no espírito nos conduz sempre por um caminho seguro, baseado no amor, na moderação e no poder de Deus, nunca de medo.

6- Uma igreja dentro de um bar “mundano”. Por que isso? Não é errado?

Jesus deixou um legado pra nós e ele é formado por duas coisas: amar as pessoas e testemunhar de Seu Evangelho. Não devemos nos importar sobre a forma como alguns poderão nos classificar, se é como mundanos, desviados, prostituídos, apóstatas. Estamos cumprindo nosso chamado, aproveitando uma oportunidade que nos foi dada. É simples e muito objetivo!

Muitos se sentem incomodados num bar, outros não conseguiriam abraçar um gay, ou uma prostituta. Esses fatores limitadores frutificam dentro das pessoas, por causa de suas experiências pessoais e eu entendo isso e aceito o momento que cada um passa em sua jornada na fé.

Contudo, fazer essa divisão entre profano e santo é muito distante da compreensão de quem é Deus, pois Ele próprio se dispõe em habitar dentro de gente como nós, amando-nos, mesmo estando cheios de pecados. Além disso, Ele nos concedeu seu Espírito que nos garante a liberdade. Essa liberdade vem de dentro e flui pra fora, então, podemos ser livres em qualquer lugar ou circunstância.

Tudo depende do que há dentro de cada pessoa!

7 – O que os membros das igrejas acham? Existe a chance desse movimento “escandalizar” os membros?

Tenho uma agenda cheia com a banda e na maioria dos lugares onde tenho ido me apresentar, compartilho dessa experiência com muita empolgação e o que sinto é que a maioria das pessoas fica feliz e motivada.

Já ouvi coisas contrárias, mas nada muito relevante.

8 – Fale o que quiser sobre o projeto.

Talvez a principal marca do Culto no Bar seja o total desprendimento que o movimento tem com o desejo de estabelecer um trilho regulador para a vida das pessoas que participam e se agregam à reunião. O simples fato de estar juntos e tirar um tempo para que Jesus participe daquele momento é a total diferença nessa experiência. Não existe ali a ambição de se fundar uma nova igreja, pelo contrário, a própria reunião é uma manifestação natural da Igreja. É simplesmente uma face diferente de algo que tem se repetido em cada geração desde 2000 anos até agora.

Não é a captura de pessoas para a adesão ao movimento, é a própria Igreja em movimento no rumo das vidas onde elas estão vivendo.

1 comentários:

Cláudio F. de Mattos disse...

Pastor Rafael!
Parabéns por sua coragem e discernimento em fazer algo tão audacioso e ao mesmo tempo tão necessário em nossos dias. Realmente está na hora dos cristãos sairem de seus "bunkers evangélicos" e irem até as pessoas seja onde for, afim de cumprir o IDE de Nosso Amado Senhor JESUS. Abraço