Religiosidade radioativa!



Essa divisão de secular e sacro é parte da ação presunçosa - bem sucedida, diga-se de passagem - de regulamentar a vida alheia.
Quando alguém se sobrepõe a outro, através de regras que determinam o que fazer ou não, se estabelece diante dele como clero, ou seja, autoridade religiosa.
Clero pressupõe alguém que recebeu uma porção hereditária que o tornou parte de uma casta sacerdotal, estando num patamar social superior aos demais, o laicato, ou seja, os leigos, ignorantes.
Infelizmente, se fizermos uma radiografia da mente geral da igreja evangélica da atualidade, veremos que a mesma tem sofrido severas avarias e até mesmo um atrofiamento de seu cérebro, prejudicado que foi pela radiação religiosa.

Dividir a igreja em castas é um dos sintomas dessa tal ‘radiação da religiosidade’, mas ainda existem outros.

Ora, nos tornamos incapazes de entender o clamor de Deus pelo mundo perdido, justamente por nossa incapacidade de entender o clamor do mundo perdido por Deus. A insensibilidade ao mundo que Deus amou nos torna insensíveis ao Deus que amou o mundo.

Odiar os não crentes também é sintoma da ‘radiação da religiosidade’!

Deixamos a ciência escapar por nossos dedos, abandonando o conhecimento como se a inteligência e o saber profanassem nossa espiritualidade. Pense comigo, por favor: se alguém tem dificuldades para entender a mente de seus poetas, de seus políticos e dos que fazem a história de sua geração, como poderá entender a mente de Deus, em sua geração?
Alguns acham que filosofia não conduz a lugar algum, mas eu acho que pensar assim é um sintoma gravíssimo, da radiação religiosa.
A palavra filosofia significa “amigo da sabedoria” e não gostar dela traduz-se em não gostar do saber.
O profeta já dizia: "meu povo perece por falta de conhecimento". Procurar pelo saber e se apaixonar pelo conhecimento não nos afasta de Deus, pelo contrário, nos aproxima.

Rejeitar o conhecimento além de atrofiar a mente, é sintoma da ‘radiação da religiosidade’!

Se você olhar para o mundo ao seu redor com os olhos de Deus irá perceber que eles clamam por algo. Se você percebe esse clamor, é porque Deus lhe faz capaz de enxergar, pois Ele mesmo lhe abriu os olhos.
A insensibilidade de muitos hoje se dá pelo fato de não conhecerem a Deus corretamente. Quando conhecemos Deus do jeito que Ele é, verdadeiramente, não através de uma história ou uma tradição retransmitida, mas em um conhecimento íntimo e pessoal, então, o seu coração se revela diante de nós.
É aí que nossa arte passa a queimar na alma, fazendo derreter os nossos corações, gerando novas formas, cores e melodias, criando um elo espiritual entre nós e aqueles que contemplam nossa obra, pois o elo entre nós e Deus se fortaleceu através de um relacionamento sincero.

Insensibilidade é sintoma da ‘radiação da religiosidade’!

O problema maior da igreja nestes dias é que ela se afastou dos seus próprios pecados, inventando um mundo paralelo cheio de regras e muros que a impede de se aproximar e se identificar com os pecadores.
Embora lá dentro deles, cada um sinta as mesmas coisas, sustentando os mesmos pecados de sempre, sua falta de confissão e transparência os impede de chegar a Cristo, por haverem incorrido no erro da hipocrisia, outro efeito da radiação religiosa.
Eu não quero me entregar à hipocrisia, pois se me entregar morrerei e não conseguirei mais olhar nos olhos de minha esposa, de meus amigos e do público que me assiste cantando.
Eu não troco o vexame particular de saber quem eu sou e de assumir que dependo da graça de Jesus por nada que este mundo clerical possa me oferecer, pois é o meu vexame que me mantém vivo.
Envergonhado, estou morto e como pecador, pela fé em Cristo, estou vivo.

Hipocrisia é um gravíssimo, mas não incurável sintoma da ‘radiação da religiosidade’!

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