Confessar nossos pecados - Sacramento ou prática de vida?






“Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns
pelos outros para serdes curados”.
Tiago 5:16

A confissão é um sacramento de diversas igrejas cristãs. Um sacramento é algo como um sinal visível, que materializa um princípio espiritual invisível e que tem a finalidade de produzir santificação nas pessoas.
Cristãos se batizam, participam da Santa Ceia de Jesus (eucaristia) e de outros sacramentos com o intuito de, através desses rituais ou substâncias, conectarem-se com seu Deus.
Como já disse, confessar é uma dessas práticas e segundo o catecismo católico, o sacramento do batismo disponibiliza o perdão dos pecados ao cristão, no entanto, se faz necessário ao crente manter-se penitente, em virtude de sua natureza fragilmente inclinada às práticas pecaminosas. Para isto, foi instituída a confissão dos pecados.
Ok! Acho que isso todos entendem, e quem lê o que escrevo entende também que sou um iconoclasta inveterado e completamente contra os rituais - sobre os quais penso servir apenas para afastar as pessoas de Deus, promovendo relações gélidas e religiosas.
Deus é nosso Pai e nós, filhos, somos todos irmãos uns dos outros na vida de comunidade, portanto, uma família espiritual.
Ora, numa família, as pessoas são diferentes, mas ainda assim, pelo contato contínuo - o convívio - é natural que se desenvolva uma situação chamada intimidade.
Intimidade com o Pai e intimidade com os irmãos.
O ponto onde quero chegar é no de unir o versículo citado por Tiago lá em cima, o sacramento estabelecido pelo sistema eclesial e a intimidade familiar na comunidade.
Tiago disse: “confessem vossos pecados uns aos outros” e em algumas versões está escrito assim “confessai as vossas culpas...”.
Pense com sinceridade no que você entende desse verso e como seria possível sistematizar sua prática?
Eu, particularmente, vejo aqui o estabelecimento do princípio da sinceridade na comunidade. Gente comum, consciente de sua natureza, humilde, sincera e honesta umas com as outras.
Não consigo imaginar a menor base para se estabelecer um ritualismo duro e forçado, que obriga alguém a dizer suas intimidades mais bizarras a um desconhecido e, pior, por obrigação religiosa, sob pena de se tornar maldito.
Nesse momento, em que uso e abuso de uma das maiores benesses da Reforma Protestante de Lutero, que me incita ao livre exame das Escrituras, noto um lindo quadro familiar, um grupo formado por pessoas francas, abrindo o jogo de suas vidas diante de seus melhores amigos, dizendo o quanto “tá punk” a jornada.
Confessar os pecados, pra mim, é isto: “A liberação da boa consciência, através do arrependimento e da liberdade para falar de nossas fraquezas e limitações aos irmãos. O contrário disso só serve pra erguemos um templo de falsidade.

Rafael Cardoso


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