Mal-do-ismo




Ao se apaixonar por fundamentos, fez um fundamentalismo.
Por mal conhecer o Cristo, fundou um cristianismo.
Da paixão pelo vil metal se fez um capitalismo.
Da falsa modéstia social criou-se um falso socialismo.
Do engano acerca do que era comum nasceu um comunismo.
Até o bem institucional se transforma em mal pelo cinismo.
Pois todo bem que vem por lei é na verdade legalismo.
O mal do mundo, com seu mundanismo,
e a sociedade com o corporativismo,
o direito da mulher feito em feminismo
e o do homem, em machismo formam grupos encerrados,
cada qual em seu próprio empirismo.


Existe uma regra que não se encaixa em nenhum “ismo”:
É o amor, nova lei dada por Cristo em seu lirismo.
Não pode ser emulada ou recriada no Humanismo.
E, ainda que alguém abra mão de seu ascetismo,
Sua prática forçada se faz mero dogmatismo, ceticismo ou criticismo.

O sufixo que determina a escola, as teorias e os princípios,
Se diferencia dos adjetivos abstratos que derivam do indivíduo.
E a menção a alguém se contrapõe ao inexorável determinismo.
Se a qualidade é pessoal e desligada do coletivo,
Então o sufixo “ismo” toma a forma de sufixo “dade”.
Daí, se o reflexo carrancudo do feminino é o feminismo,
a poesia da mulher se dá em sua feminilidade.
E se o sistema do comum é o comunismo,
sua verdadeira revelação se dá na vida em comunidade.
E, se o mal de Cristo é o cristianismo,
seu bem se revela em cada um por sua cristandade.

Rafael Cardoso

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