Adão e Eva - Monogenismo, poligenismo e homo divinus


A história da Criação entusiasma crianças, mas com o tempo e a maturidade, ela acaba se tornando uma pedra no sapato de qualquer cristão fervoroso que queria debater sobre o assunto com o mínimo de sinceridade e equilíbrio entre ciência e fé. 
Aprendi algumas coisas que gostaria de compartilhar sobre o tema e nossos mais primitivos descendentes. 
O fato é que o lance de Adão e Eva serem os pais de toda a humanidade, a teologia do monogenismo, vem provando ser cada vez mais insustentável do ponto de vista biológico, científico. ma mesma medida que sabemos hoje que, dificilmente, o homem tenha sido formado do barro, ou a mulher de uma costela e que, como já dito, ao princípio houvesse apenas um casal.
Sobre a origem dessa história, é provável que um “yahvista” (antigo catequista hebreu), quisesse passar um registro acerca da origem do homem, usando como base a figura de um 'deus oleiro', de joelhos no chão amassando barro com suas mãos, criando um objeto incrivelmente perfeito, tal como a figura humana dos primitivos artesãos que criavam, com maestria, baixelas, copos refinados e lindos utensílios.
Para dar um caráter sagrado e destacado a essa criação, o “yahvista” utilizou a ideia do sopro divino, como fonte sagrada da vida humana.
Ora, estava longe de existir a teoria da evolução e o propósito do catequista não era dar uma explicação científica, mas sim fornecer uma aproximação religiosa a seus discípulos, através dessas metáforas.
Para mim, a ideia do 'poligenismo', a tese de que Adão e Eva fossem figuras simbólicas que representavam um primeiro grupo de seres humanos e que foi atacada por alguns papas, parece ser mais lógica, além de encontrar maior probabilidade científica.
Ou seja, Adão e Eva eram um povo, não apenas um casal, mas algumas dezenas ou talvez centenas de pessoas que viviam numa comunidade.
Outro modelo de pensamento que é de mais fácil assimilação pra mim é o chamado 'Homo divinus', uma ideia de que Adão e Eva tenham sido os primeiros humanos a ter uma revelação de Deus, dentre os outros humanos que já existiam. 
Um dos que defenderam essa ideia foi Joseph Ratzinger, que antes de se tornar o Papa Bento XVI, escreveu sobre a criação por uma ótica evolucionista em um capítulo de seu livro “Dogma e Anúncio”. 
Ele disse: “A afirmação de que o homem foi criado por Deus de um modo específico, mais direto do que as coisas da natureza, significa, em expressão um pouco menos figurada, simplesmente que o homem foi querido por Deus de um modo específico: não só como um ser que existe, mas como alguém que conhece a Deus.”
O Papa, reconhecidamente um dos maiores teólogos da atualidade, ainda afirma que a ciência até pode dizer quando surgiu o Homo sapiens, biologicamente falando, mas não pode fixar “o momento de sua humanização”. 
Quanto a humanização, Ratzinger ressalta que a mesma está conectada a ideia de que “a argila só se tornou homem quando, pela primeira vez, pôde formar um pensamento sobre Deus. 
"A primeira oração – por mais balbuciante que tenha sido – dita a Deus por boca humana, designaria o momento no qual o espírito surgiu no mundo”, disse o Papa.
Paulo de Tarso exortou: "não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento".

Reflitamos, estudemos e prossigamos em conhecer o Senhor!

Rafael Reparador

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