Guarde seu coração


“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” 
Livro dos Provérbios


O coração, na anatomia humana, é o órgão central da circulação sanguínea. É ele que movimenta o sangue, líquido vital do corpo, levando o oxigênio para órgãos, membros, tecidos. 

Figuradamente, o coração é a parte central, o núcleo, o centro das sensações, percepções e emoções. Símbolo do amor e dos sentimentos de altruísmo, generosidade, piedade e compaixão, ele também representa a vida interior de uma pessoa.

Segundo a sabedoria milenar da Bíblia, devemos dar a preferência na guarda desse centro vital de nosso ser, o coração simbólico.

Antônio Cícero, compositor e escritor brasileiro, define ‘guardar’ de uma maneira muito linda, conforme podemos ver em seu poema que leva o mesmo nome. Veja: 

"Guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.”

Pois bem, sob uma perspectiva mais metafórica do coração e um novo entendimento sobre o que significa guardar, a proposta que trago nesta reflexão, tanto pra mim quanto pros leitores, é a de que devemos ser muito cuidadosos com a fonte de nossa essência vital, o ponto central de nossas almas. 

Do meu ponto de vista, preservar o coração significa cultivar uma vida que privilegia perspectivas positivas acerca das nuances mais diversas da existência. 

Sabendo que não há um estado perene de felicidade, pelo contrário, vivendo num caldeirão de situações de ‘sortes e revezes’ a busca por uma perspectiva umedecida em altas doses de esperança é fundamental para que não mergulhemos num estado de depressão, revolta ou quaisquer outras sensações destrutivas, comuns à consciência do caos.

Certa vez ouvi de alguém que “a ignorância é a mãe da felicidade”. Na época concordei e ainda consigo entender o sentido desta frase, mas hoje, minha ótica é outra. Minha ótica é a da superação – a ação dos super-heróis; é a de extrair bons perfumes dos chorumes, a velha limonada dos limões da vida. 

A esperança é o açúcar, antídoto da amargura de uma vida cheia de más surpresas. Ela ajuda a guardar o coração, ajuda a manter a sobriedade e tranquilidade, a não surtar diante de tantas más notícias nos telejornais e na vizinhança. 

Guardemos o coração, superemos nossas amarguras, vençamos as dores da alma, admiremos o coração, iluminemos, sejamos por ele iluminado e, sobre tudo, não percamos o coração de vista, ou seja, atravancando possibilidades de emoções incríveis em situações arriscadas - como um grande amor, uma adoção, ou simplesmente aceitar um pedido de perdão.
Desejo que ninguém mais se torne tão triste, a ponto de ser incapaz de amar, aceitar, receber, olhar com ternura, ajudar, acreditar.

Rafael Reparador

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