Cobertura do Espírito X Cobertura do Egito
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“Ai dos filhos rebeldes, diz o Senhor, que tomaram conselho, mas não de mim! E que se cobriram com uma cobertura, mas não do meu Espírito, para acrescentarem pecado a pecado! Que descem ao Egito, sem perguntarem à minha boca, para se fortificarem com a força de Faraó e para confiarem na sombra do Egito! Porque a força de Faraó se vos tornará em vergonha, e a confiança na sombra do Egito, em confusão”.
Isaías 30:1-3
O contexto histórico deste fragmento das Escrituras encontra seu paralelo nos capítulo 18 e 19 do II Reis, narrando um período de domínio Assírio como potência militar que subjugava de forma tirana algumas nações entre as quais, Israel.
O rei Ezequias, cansado de arcar com os pesados tributos, coligou-se a uma conspiração internacional que tinha como principal aliado o Egito, com o objetivo de enfrentar e acabar com o domínio da Assíria sobre Israel.
Contudo, no plano espiritual, que contempla muito além das razões políticas, algo muito mais profundo e grave estava ocorrendo, sendo revelado ao profeta Isaías que, de imediato, comunicou ao rei a fim de que o mesmo se alinhasse ao mover profético.
A partir deste exemplo, gostaria de editar uma forma de pensamento sobre o conflito entre essas duas dimensões tão ativas e concorrentes dentro de nós. Cobertura do Espírito e Cobertura do Egito são duas formas de encontrarmos bases para nossas atitudes e duas maneiras de apoiar e justificar nossas teses.
Vamos vê-las:
I) A cobertura do Espírito (versículo 1)
Sem a pretensão de mistificar ou desmistificar, nem tampouco, esgotar o amplo assunto “Cobertura Espiritual”, gostaria apenas de registrar meu entendimento sobre o tema, à luz deste único versículo.
Segundo o texto, podemos observar que o tema cobertura do espírito, está intimamente vinculado ao quesito “obediência ao conselho de Deus”.
Naquela situação extremamente delicada que vivia Israel, sob a insegurança de viver debaixo de um domínio tirano de uma nação sanguinária, o rei Ezequias se viu em posição emergencial para a tomada urgente de uma atitude.
Sendo um estadista, aquele rei agiu da mesma maneira que qualquer outro líder responsável de alguma nação o faria. Dispondo de todas as alianças diplomáticas que tinha a seu alcance, Ezequias ponderou que pagar tributos ao Egito seria, naquele momento, melhor negócio do que continuar assistindo os cofres da nação se esvaziando ano após ano, enriquecendo com isso a nação Assíria.
Aquela era uma maneira de pensar muito lógica para um líder de nação!
Tudo o que ele queria como rei era cumprir com sua obrigação de preservar a soberania de seu país, não se abstendo de tomar as devidas atitudes para atingir seu objetivo de proteção nacional.
Porém, conforme nos adverte o apóstolo Paulo na carta aos romanos, não devemos nos confirmar com este mundo, antes, precisamos ser transformados pela renovação das mentes para enfim experimentar a perfeita vontade de Deus.
O texto no qual estamos refletindo inicia dizendo: “Ai dos filhos rebeldes”.
Como povo de Deus, estamos destinados a uma dependência irrestrita de sua palavra e quando agimos fora do seu Conselho, saímos de sob sua cobertura, conforme diz a continuidade do texto: “que se cobriram com uma cobertura, mas não a do meu Espírito”.
Os que se estribam no arrogante entendimento humano, se tornam rebeldes. Os filhos de Deus que tomam suas decisões a partir de estatísticas, estudos sociológicos ou quaisquer outras formas científicas, podem estar se enganando terrivelmente e o que é pior, se rebelando contra o Conselho de Deus.
Só há uma verdade e ela é o Verbo! Somente a Palavra Viva e revelada, aprovada com a chancela do Espírito poderá nos garantir a Cobertura indefectível que vem de Deus.
O que for fora disso, repito, pode ser insurreição!! Repense as bases de suas atitudes.
II) A Cobertura do Egito (Versículo 2)
Para que pudessem levar seus tributos ao Egito, os diplomatas israelenses deveriam viajar pelo Negev (palavra hebraica que quer dizer sul).
Passar pelo Negev já era por si só uma aventura muito arriscada, pois era uma área acidentada e perigosa onde haviam muitos animais selvagens.
Israel estava pagando um alto preço para levar suas mercadorias ao Egito porque seu líder acreditava cabalmente que aquela aliança seria um recurso determinante na solução de seus problemas.
Para nós, avaliar essa história teologicamente e conhecendo suas implicações e como tudo acabou é fácil concluir que aquela era um atitude alucinada do rei Ezequias, porém, é muito comum vermos crentes saírem debaixo da Cobertura do Espírito para entrar na Cobertura do Egito. Mas por que isso acontece?
Quem entra debaixo da cobertura do Egito, passa a ser fortalecido pela força do Faraó. Todos os que estudam a Bíblia sabem que o Egito é o símbolo do mundo pagão, que não tem o Deus de Israel como seu Rei máximo e essa força faraônica é simbolizada pelas pirâmides, onde vemos o ungido dominando sobre a massa popular, ou seja, o forte governa, oprimindo e escravizando a multidão dos desfavorecidos.
É um sistema de organização social que não tem em sua essência os princípios Divinos, mas a mentalidade filosófica, cultural e política seculares de quem sempre viveu longe e em rebelião contra a vontade de Deus.
É assim que nosso mundo é e foi governado sempre. O próprio Jesus disse isso aos seus discípulos: “no mundo, o maior domina sobre o menor, mas entre vós não será assim”.
Aí está uma afirmação crucial do Mestre: Entre nós não deve ser assim!
Existe, contudo, uma resposta imediata e real do Faraó para todos os que o buscam como sua cobertura.
Pessoalmente, enxergo a cobertura como uma árvore cujos galhos, folhas e frutos trazem sombra, abrigo e alimento para diversas espécies de aves, animais e até homens. A cobertura do Egito fornece insumos para que as instituições possam desenvolver e obter certa proteção em seus projetos, oferecendo condições de hospedarem-se debaixo de sua sombra, desde que seja pago o seu devido tributo, é lógico.
Isso é comprovado pelo funcionamento dos sistemas de crédito que dão sua cobertura para que alguém possa adquirir seus bens móveis e imóveis, conquistando seu patrimônio neste mundo, porém, através do pagamento de uma comissão, chamada de juros, que é o mesmo tributo com um nome diferente.
Perceba que quando se está em uma situação de perigo financeiro, a cobertura mundial oferece crédito para que uma pessoa, instituição ou até uma nação possa ser socorrida.
Foi isso o que o rei Ezequias fez e foi por esse motivo que ele foi chamado por Deus de rebelde.
Pense bem: nós fazemos isso quase todos os dias! Recorremos ao crédito que os sistemas cooperativos e bancários nos oferecem sempre que uma situação de emergência nos aflige. Até mesmo quando precisamos adquirir novos bens, como carros, casa, computadores ou Tvs de plasma, utilizamos dessa cobertura.
O que quero dizer é que tanto naquele tempo, quanto hoje, essa relação de cobertura que o Egito/Mundo oferece tem a mesma incidência e influência sobre os homens.
Depender de Deus é sempre mais complicado e as respostas sempre virão num tempo posterior ao que gostaríamos, porém, fazer alianças com políticos, empresários, meios de comunicação em massa podem consistir em um ato de rebelião de nossa parte, tanto individual quanto institucionalmente.
III) Força do Faraó e Sombra do Egito: Vergonha e Confusão!
Como Igreja, ao sermos fortalecidos com os poderes que dominam este mundo, automaticamente, estamos nos desfazendo em público da força de Deus.
O apego ao dinheiro é algo tão evidente na vida e no testemunho dos evangélicos que isso se tornou em motivo de vergonha perante a opinião pública, enfraquecendo a pregação do Evangelho ao mundo.
Essa conformação à necessidade do dinheiro que alguns líderes demonstram em suas próprias vidas e na condução de suas obras evidencia que muitos entre nós vivem debaixo da cobertura do Egito e não do Espírito.
Encontra-se até quem cite textos como “o dinheiro a tudo responde” como base teológica para tal dependência.
Crer na Força do Faraó constitui em uma vergonha para a Igreja!
Do mesmo modo, a Sombra do Egito acaba confundindo os próprios cristãos na sua missão evangelizadora. Muitos se tornaram tão secularizados na forma de conduzir a igreja que se torna impossível perceber a diferença entre ela e uma empresa qualquer.
Algumas igrejas se tornaram multinacionais de porte e lucratividade gigantesca, donas de grandes impérios internacionais de telecomunicações, contabilizando receitas vultuosas.
Ainda há os métodos de pregação que muitos utilizam, baseados em estudos psicológicos que visam a manipulação mental de grandes massas populares, com forte apelo emocional e técnicas de atração e persuasão.
Argumentos e poderes como estes, nada tem a ver com a obra do Espírito Santo, mas são frutos que se encontram na Árvore do Egito e que estão disponíveis a todos os que recorrerem a sua cobertura.
Os resultados obtidos por essa enganosa e ilusória eficiência podem confundir os mais sinceros e experientes crentes, pois como muitos desses líderes que não andam debaixo da cobertura do Espírito costumam dizer: “contra fatos não há argumentos!”
A Sombra do Egito gera grande confusão.
Conclusão
As duas coberturas estão disponíveis a todos os crentes. Ezequias, rei de Israel, escolheu o Egito porque lhe parecia o mais sensato e eficaz a se fazer. Isso até que o mesmo foi confrontado pelo profeta, sendo-lhe então revelada a verdadeira vontade de Deus para o rei e a nação.
Espero sinceramente que esta leitura seja uma ferramenta profética na vida daqueles que optaram pela cobertura visível e lógica, mas de resultados catastróficos, que vem do Egito e possam retornar para debaixo da obediência verdadeira do Espírito. Devemos perseverar no fato de que Deus é Espírito e que seu Reino não é deste mundo e por isso, todas as vezes que estivermos em circunstâncias adversas, o desafio será sempre o de esperar pela reposta genuína do Espírito para cada um de nós e para as igrejas que conduzimos como pastores do rebanho de Deus.