As tentações do deserto

Jesus, cheio do Espírito, foi levado ao deserto, onde sofreu fortes provas e tentações durante 40 dias.

Sua experiência não serve somente como um símbolo para nós, mas é um modelo de procedimento e postura para cada crente que enfrenta sinceramente sua jornada de fé perante o mundo.

Quero trazer uma meditação minha sobre essa dependência radical do Senhor, mas, para isso, devemos primeiramente entender algumas figurações dentro deste cenário que podem orientar nosso entendimento.

I- Jesus foi enviado por Deus ao deserto e, em total obediência, cheio de unção, autoridade e poder passou por terríveis provas, que exigiram o máximo de sua fé na posição de Filho de Deus. Isso pode contrariar algum tipo de doutrina absolutista de triunfalismo evangélico, mas insisto que suporte isso e vá adiante, pois pode responder a algumas questões de sua jornada pessoal.

II- A ocorrência se deu no “deserto”, lugar que simboliza profeticamente as provações e lutas espirituais do povo escolhido, ou seja, isso é parte integrante e natural da jornada cristã.

III- Jejum é um símbolo de quebrantamento, humilhação e obediência total e disciplinada ao propósito de Deus, o que também são partes integrantes e naturais da jornada cristã.

IV- Após sua grande luta, Jesus teve fome. A fome representa nossas necessidades imediatas como seres humanos e sinaliza que todos nós temos fraquezas ou anseios que desejamos suprir.

Veremos a seguir que essas fraquezas e anseios estão contidas em três esferas da vida humana, as quais vou denominar adiante de economia do corpo, economia da alma e economia do espírito.

É na hora da fraqueza, quando podemos estar sendo privados de elementos fundamentais para nossa vida normal, enquanto estamos teoricamente mais vulneráveis diante dos ataques malignos, que podemos extrair uma força sobrenatural de nossas reservas mais profundas, onde se encontram as convicções, os fundamentos éticos, morais e espirituais. Isto irá nos solidificar como filhos de Deus, tornando-nos aptos para testemunhar de Cristo perante nossa geração.

1- Economia do corpo – a fome

Na economia do corpo, temos algumas necessidades básicas, as quais são muito bem conhecidas de todos. A mais comum delas é a necessidade de comida.

O diabo disse para Jesus: se você está com fome, então use sua autoridade e poder de filho de Deus para saciá-la.

O dom de Deus que está sobre nossas vidas, o talento, o chamado, o ministério que nos reveste são bens inegociáveis, segundo a postura de Jesus. Ainda que o mesmo estivesse com muita fome, tal como Esaú, irmão de Jacó, ele não teve a mesma postura daquele, que vendeu sua primogenitura para saciar sua necessidade imediata.

Todos nós seremos tentados nessa área, sempre!

Quando o sapato do missionário ou pregador aperta e ele está no meio daquilo que chamamos comumente de “pela fé”, essa é uma possibilidade muito real para qualquer ser humano.

Transformar pedras em pães é uma proposta diabólica que nos incita à loucura de usar o poder que temos para saciar uma necessidade temporal.

Acaso Deus não saberia que um de seus chamados está passando necessidades junto com sua família no meio da batalha?

Não devemos cair no erro de Esaú, o qual vendeu sua identidade, seu destino em Deus por causa de sua fome. O meu e o seu ministério pertencem a Jesus e não podemos transformar isso em meio de sustento, comercializando nosso chamado, negociando seu Nome, sua bênção e seu carisma em troca de bens temporais.

- A resposta de Deus: ao me colocar debaixo da dependência divina, acreditando até as últimas conseqüências que sua provisão virá em tempo oportuno, o caminho para o socorro é aberto.

Precisamos de coisas, de pão, de roupas, pagar as contas da casa, mas antes disso, precisamos estar conscientes de que a bênção de Deus e a harmonia com sua Palavra são meus bens mais caros. Sustentar-me sobre esse fundamento é provar de uma dependência que me arremessa á fé verdadeira e radical, sem a qual é impossível agradar a Deus.

2- Economia da alma – reconhecimento humano

Quando tudo está tão duro, quando os recursos são tão escassos, quando precisamos urgentemente de algo que nos motive para a Obra, de repente, somos levados a um lugar muito alto, donde teremos um vislumbre sublime e altivo de uma vida que qualquer ser humano gostaria de desfrutar.

Lembre-se que estamos no meio do deserto, em pleno estado de tentação humilhante e, dum momento para outro, somos tirados da cova e arremessados ao topo dos montes deste mundo.

Uau, que coisa de Deus – certamente diremos!

O missionário que estava enfurnado nos confins da terra é convidado para pregar na maior igreja dos Estados Unidos, onde fala algo que deixa o auditório completamente extasiado, ganhando uma oferta de milhares de dólares. Consegue ver a situação?

Mas irmão, Deus não pode estar nisso, você me perguntaria? Sim, é claro, respondo, Ele está em tudo! Lembremos que foi Ele quem conduziu a seu Filho para o deserto a fim de ser tentado pelo Diabo.

Existem situações na vida em que não podemos nos iludir com aquilo que chamamos de oportunidade ou momento, sob o argumento muitas vezes ilusório de uma palavra rhema. O que está em teste aqui é o caráter de um filho de Deus, alguém que está sendo provado duramente para que possa tornar-se um testemunho fiel perante uma geração.

Deus dá oportunidades? Sim, mas quem dá o reconhecimento e a fama dos homens, trazendo visibilidade aos seus preciosos talentos e carismas?

“A mim me foi dado e eu dou a quem eu quiser”, o Diabo disse para Jesus.

Perante o sistema de mundo que conhecemos, com suas escalas e padrões de valores, sucesso, moralidade e religiosidade, se levarmos a sério o modelo de vida de Jesus, nos tornaremos meros intrusos.

A proposta do Mau é a de reverenciarmos os padrões deste mundo, nos rendendo aos seus moldes de sucesso e moralidade. É dentro desse contexto que encontramos os ídolos erguidos pela humanidade no esporte, na música, no cinema, os quais, com raríssimas exceções, são péssimos modelos humanos.

Adorar a Satanás não consiste simplesmente num ritual de magia negra, mas num modelo de vida baseado nos padrões que ele impôs. Como seguidores de Cristo, nossa vida deve seguir outro rumo completamente distinto desse.

Enquanto o diabo quer oferecer um lugar de honra dentre as celebridades deste mundo para você, no qual será reconhecido e bem pago por seus talentos naturais, ou por seus serviços prestados à humanidade, Jesus oferece compartilhar uma cruz pesada e um cálice amargo.

Parece meio desproporcional e duro de se aceitar, mas se te pregaram um outro Evangelho, comece a repensar sua teologia a partir de hoje, aproveite também para começar a ler a Bíblia, para que nem eu nem ninguém, possa te enganar com vãs filosofias humanistas e diabólicas.

- A resposta de Deus:

O apóstolo Paulo considerou todos os seus títulos e reconhecimentos humanos como esterco. Ele foi um exemplo de alguém que pegou tudo o que tinha e entregou no Altar de Deus, como um anátema, ou seja, uma oferta sem volta.

No Evangelho pregado por Jesus, do qual ambiciono ser seguidor, a Lei principal consiste em amar o nosso Deus acima de todas as coisas.

Neste mesmo Evangelho, somos um povo eleito, adquirido com exclusividade para Ele.

Não há como servirmos a Deus e ao reconhecimento dos homens.

Você quer ser exaltado? Então lembre-se de que Jesus foi exaltado, recebendo um nome acima de todo nome, nos céus, na terra e debaixo da terra, perante o qual todo o joelho se dobrará e toda língua confessará, não sem antes, contudo, ter passado pela Cruz e ter bebido do cálice.

Adore ao nosso Deus com tudo o que você tem, abrindo mão dessa glória ilusória e temporal oferecida pelo Mal.

3- Economia do espírito – orgulho e presunção religiosa

Pecado comum em todas as gerações da Igreja na terra, a presunção religiosa tem sido uma chaga recorrente e um erro do qual todos os ministros da fé devem aprender a fugir.

O topo da torre do Templo de Jerusalém, para onde o Diabo levou a Jesus, simboliza um alto posto da religião entre os homens. Uma espécie de Torre de Babel.

O próprio Deus foi quem estabeleceu sacerdotes, juízes, profetas, pastores, apóstolos, presbíteros, enfim, todos os ministros constituídos na terra, os quais são capacitadas para falar e agir em seu nome e a seu serviço perante os homens. Contudo, ao subir no topo da torre, o diabo propôs a Jesus que Ele se auto proclamasse autoridade espiritual sobre o povo. Ele quis fazer Jesus ver que poderia exercer domínio através de sua doutrina.

Não conseguiu com o Senhor, mas conseguiu com muitos outros, concorda?

Ao sugerir que Jesus se precipitasse lá de cima, sob a promessa bíblica de que os anjos do Senhor iriam socorrê-Lo, o diabo lançou uma falsa rhema para Jesus. Interpreto essa tentação vendo o diabo falar da seguinte maneira: “querido, você está no topo, está no mais alto posto onde um homem pode estar, acima de você só existe Deus. Sua autoridade e espiritualidade é incontestável e tudo o que você fizer daqui de cima, do auge de sua soberania sacerdotal, Deus irá sustentar”.

Consigo relembrar algumas profetadas desse nível ouvidas na minha caminhada. Na própria Bíblia encontramos exemplos disso, onde falsos profetas estimularam reis a sair em guerra, sob palavras de vitória que Deus não havia decretado. Nem precisamos dizer que todos se deram muito mal.

Assim como Jesus naquela ocasião, talvez alguns de nós estejamos passando por um momento de tentação em meio a um deserto espiritual. Neste instante, o Inimigo das Nossas Almas, procurará enganar, induzindo-nos a uma loucura em nome de Deus. Entenda, qualquer coisa que façamos dizendo: “Deus me deu esta direção”, não tendo dado, é loucura.

Muitas atitudes insanas têm sido empreendidas em nome de Deus e do Evangelho através da história. No passado, pessoas foram mortas, povos dizimados, hereges perseguidos e torturados, hoje em dia, mega denominações cristãs constroem impérios para seus papas, apóstolos e bispos, alguns dos quais terminam suas carreiras sendo envergonhados, tachados de impostores, desmascarados publicamente em uma relação obscena com o dinheiro e, não raramente, envolvidos em situações imorais dos mais baixos níveis. Tudo isso em nome de sua religião, sentados no alto da torre de seus templos e, como loucos, lançam-se em empreitadas embasadas em falsas teologias.

- A resposta de Deus:

Jesus disse que não podemos tentar ao nosso Deus. Nada que o homem faça poderá manipulá-Lo e qualquer um que pense ser alguma coisa, não sendo, engana-se a si mesmo. Sua atitude não passa de presunção religiosa, arrogância e orgulho que repelem a graça de Deus, pois Ele dá preferência aos humildes.

A única maneira de fugirmos dessa loucura é aprendendo a viver na disciplina da humilhação. Ela é a marca do verdadeiro homem que Deus usa.

Humilhação significa não fazer nada que não seja a plena e convicta vontade de Deus, para que, após a sua obediência, Ele olhe do céu e diga: este é meu filho amado em quem tenho prazer.

Quem dá mais prazer ao Pai senão o filho que nEle acredita e obedece suas palavras?

A resposta de Jesus é a mesma que o Pai quer ouvir de cada um de nós diante da tentação de nos tornarmos líderes presunçosos e autoritários: não vou forçar Deus a fazer nada!!

Não caia nas ciladas astutas do nosso Inimigo. O Mal é uma instituição muito convincente e em momentos de provação do deserto nos tornamos pessoas mais vulneráveis para suas propostas indecentes. Contudo, é também nessas circunstâncias que o joio é separado do trigo, os bons dos maus, onde os justos são diferenciados dos injustos e os humildes se destacam dentre os arrogantes.

rafa

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