A identidade secreta dos heróis


Minha esposa é grande admiradora de quadrinhos, videogames, mangás, super heróis e coisas afins. Poderia dizer que ela é uma dona de casa geek. Eu e ela somos grandes amigos e sempre investimos tempo em longas conversas sobre os mais diversos assuntos, nas quais aprendo muito com sua sabedoria. Numa dessas conversas, enquanto falávamos de nosso assunto favorito – ministério, chamado – ela me disse: “todo super herói tem uma identidade secreta, na qual vive sua vida normal”.

Isso me forçou a pensar na vida de missionários, ministros, pastores e líderes de grande exposição e passei a ponderar comigo mesmo sobre a existência de uma identidade secreta que porventura ostentem em sua intimidade.

Logo que saiu a primeira parte da saga do Homem Aranha no cinema, há alguns anos, alguém escreveu que dentre todos os super heróis, ele seria o mais identificado com o Cristão. Apesar de seus poderes mirabolantes, que lhe outorgavam habilidades ilimitadas, em sua identidade secreta, Peter Parker, era apenas um jovem frágil, sem grandes recursos financeiros, apaixonado, incompreendido e num constante conflito interior que girava em torno de seu bom caráter, sua missão e responsabilidade perante o mundo por causa de seu dom extraordinário e o sentimento de justiça própria, sempre ferido pelo anonimato a que se impunha.

Guardadas as proporções que separam a realidade da ficção, todo cristão é potencialmente um herói. Alguém capaz de grandes feitos em seu tempo por causa do poder conferido pela fé no seguimento ao Evangelho de Cristo. Coisas extraordinárias podem ser realizadas em nome do Messias, obras maiores do que as que Ele próprio efetuou enquanto encarnado neste mundo.

Contudo, como é duro possuir tão grande habilidade em si próprio e não poder utilizar disso em prol de si mesmo. Do contrário, seria usurpação de seu dom. Me lembro de Jesus, pela ótica do apóstolo Paulo, que disse: “o qual, sendo Deus, não usurpou o ser igual a Deus, mas a si mesmo se esvaziou...”.

É uma dura tarefa encontrarmos nos dias de hoje heróis cristãos que se igualem em honra aos heróis da ficção, os quais, abrindo mão de suas próprias vidas pessoais, seus desejos e seus amores esvaziam-se de si mesmos a fim de ser fieis ao dom extraordinário que receberam, servindo de maneira abnegada à humanidade.

Penso nos muitos missionários que abandonaram suas vidas e projetos pessoais e partiram para uma terra que não é a sua, abrindo mão de ser alguém, para tornar-se ninguém perante um povo que provavelmente nunca os concederá o devido reconhecimento. Também penso nos pastores que, abandonando a piedade que receberam no modelo de Jesus e da sã doutrina dos apóstolos, passaram a assumir identidades superiores às que são dignos, recebendo honrarias humanas e títulos, como se fossem merecedores de tais condecorações.

Isso me faz respeitar muito mais o exemplo de vida dos personagens dos quadrinhos do que o de muitos líderes cristãos da atualidade. É com eles que mais tenho me identificado no que diz respeito à honra e ao caráter e, sinceramente, acho que assistir aos filmes que mostram suas vidas, ler seus gibis, jogar seus games me parece muito mais adequado para a educação de minha filha do que exibir a escandalosa vida de um apóstolo milionário egocêntrico e arrogante, que se gaba por ter alcançado fama e fortuna em nome de seu deus.

rafa,

Na revolução