Minha Reforma


Muitos entre os evangélicos temos sentido o desejo crescente em nossos corações de mudar algumas coisas que têm sido agregadas ao modus vivendi da igreja contemporânea. As múltiplas instituições eclesiásticas, ao mesmo tempo que colaboraram com uma massificação das Palavras de Jesus no mundo, contribuíram grandemente com a disseminação de doutrinas, ritos e infindas séries de bizarrices como a judaização do cristianismo, o mercado gospel, a visão de conquista de territórios, a teologia da prosperidade etc.

Não há limites para a imaginação de um apóstolo, quando se trata de entreter e cativar as almas. Todo tipo de prática, seja ela da origem que for, pode ser utilizada desde que o fim seja agregar ou consolidar as vidas no evangelho - mesmo que tudo não passe de uma grande confusão e não consolide porcaria nenhuma.

Ora, esse lance de “fim que justificam os meios” é papo de conquistador, de colonizador, de cruzado, gente que quer encampar o planeta terra com seu projeto pessoal.

Tudo isto, coberto pelo manto holístico que santifica ações arbitrárias e insanidades teológicas e tem gerado um povo crente tolo, irracional e que não consegue discutir a Bíblia sob uma perspectiva que une o bom senso à fé e a Verdade à cosmovisão da vanguarda.

Sei que não tenho condições, sob nenhum aspecto, de reformar a religião cristã, mas dentro de minha insignificância existe uma ousadia que ponho em prática através de meus meios de comunicação e, neste momento, ela me impele a registrar pensamentos sobre o assunto. Não chegarei nem perto das 95 teses, mas vou começar pelas minhas 4, mesmo que correndo o risco de ser ridículo.

Confesso que isto não me desmotiva, pois o que mais me amedronta é a possibilidade de me tornar irrelevante, inóquo e inoperante diante de minha geração. Então, abro a mente, dou voz a meus pensamentos e compartilho minhas 4 visões primitivas sobre o que deve ser reformado na Igreja Evangélica deste início da segunda década do século XXI:

  1. Uma Reconstrução - Antes de mais nada, entendo que para haver uma reforma de fato, necessitamos de uma disposição mental, física e espiritual para o renovo.

    Reforma pressupõe, impreterivelmente, trocar o velho pelo novo. Apegos a formas, modelos e trejeitos são barreiras que devem ser vencidas.

    Não podemos nos auto limitar ao que já foi entendido, pois a compreensão de Deus e do Evangelho é uma contínua jornada do saber e do experimentar, conduzindo nossa caminhada terrenal ao que a Bíblia chama de novidade de vida.

    Andar nisso é equilibrar-se sobre uma linha fina que liga a fé sobrenatural e o culto racional.

    Portanto, toda máxima humana, mesmo que definida por convenções antigas como fundamentos, são questionáveis e transitórias. A única Verdade absoluta, chamada de fundamento dos apóstolos, é Jesus, a principal pedra angular, sobre a qual toda a construção está baseada. (Ef. 2:20; I Cor. 3:11).

    O resto é relativo, especulação, ponto de vista e prisma.

  1. Universalidade de Jesus – A terra é a herança de Jesus Cristo (Hb. 1). Deus Pai criou todas as coisas e as entregou nas mãos do Filho. Não há limites para Jesus e tudo o que há foi feito para Ele. As pessoas são os despojos de sua vitória na batalha contra o Mal. Cada ser humano pertence a Jesus por direito, pois foram comprados por preço.

    Por maiores que sejam nossas limitações pessoais em adentrar em lugares tidos como infernais, em coexistir com pensamentos e doutrinas exóticos demais pra nossas tradições pessoais, tudo isto deve ser considerado como lixo diante da excelência desse conhecimento da pessoa de Jesus.

    Há, infelizmente, uma supervalorização da ótica e da perspectiva humana. Nossas convenções baseadas em visões temporais, aprisionadas em conceitos fracos e unilaterais têm gerado muitos limites por causa do raciocínio humano, bem como dos preconceitos, da ciência, das tradições e ainda dos interesses particulares, diante dos quais, muitos terminam por perder a alma.
    Contudo, Jesus, quando chega diante de uma trincheira ou cerca humana, a ultrapassa, pois não se submete a formatação dos homens.

  2. Mandamentos e a Nova Aliança – I João 4:7diz: “Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”.

    Apóstolo Paulo lutou com os cristãos judaizantes, defendendo sua posição de que as regras cabidas a vida comum de um judeu não deveriam ser repassadas aos gentios. Paulo, que seguiu durante toda sua vida a Lei mosaica, agora estava colocando uma barreira que a limitava a uma aliança que já não estava mais em vigor.

    Ele está proclamando um novo tempo, uma nova dispensação, uma nova era espiritual, regida por leis reformadas, ou seja, a perspectiva mudara a partir dos céus, então, as pessoas deveriam se adequar a isto.

    Parafraseando Paulo em sua obra, poderíamos dizer assim: os tempos mudaram, meus irmãos e não devemos mais fazer como era feito. É tempo de reformas!

    Em Hebreus 8:13, está escrito assim: “Dizendo Nova Aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e envelhece, perto está de acabar”.

    Interessante como somos apegados ao velho. Velhos costumes, velhas formas, tradições. Vejo novas igrejas surgindo com cara de novidade, mas quando as conheço de perto, me decepciono por ver que na verdade é tudo velho, igual, sem novidade. Isto me prova que Jesus não está ali, pois o Senhor é a semente da novidade de vida e quando estamos nEle, tudo se renova, dia após dia.

    O versículo que citei no início deste tópico diz que devemos nos amar uns aos outros. Isto é a base primária da Nova Aliança!

    Amor não é o simples gostar. Quem gosta, gosta pra si, quem ama, faz algo pelo próximo. Amar é o oposto da paixão, pois enquanto o apaixonado busca sua própria satisfação, o que ama serve a alguém de todo coração.

    O amor nos torna de fato servos!

    Servos são escravos, embora o lirismo cristão desse verbete tenha tirado muito de seu peso real.

    Portanto, quem ama, serve, ajuda, se sacrifica, se esforça, se submete, vence a ira, suporta, acredita, partilha, enfim, o amor torna uma pessoa comum num guerreiro com poder ilimitado de superação.

    Bem disse Salomão que “o amor é forte como a morte” (Ct. 8:6) e isto me revela que ele é a única força no universo conhecido que pode lutar em igualdade contra a inexorável morte. Pensemo nisso!

    Por estas razões, entendo que o mandamento do amor é o resumo de todo mandamento bíblico e no serviço abnegado uns aos outros, cumprimos todas as regras numa só (Mt. 22:37 – 40).

    Nesta reforma, proponho que nos amemos uns aos outros, não só de palavras, mas com obras verdadeiras (I Jo. 3:18), e abandonemos questões tolas e sem sentido que tratam de coberturas espirituais, de taxações financeiras que definem com quanto se deve contribuir na igreja, de como deve ser realizado o batismo nas águas, se o dom de línguas é ou não o sinal do batismo do E.S., enfim, discussões interessantes, mas que se “desgastam pelo uso, segundo as doutrinas humanas” (Col. 2:22).

  3. A Grande Comissão como principal traço da personalidade do Cristão – a vida de Jesus foi baseada na missão e no mandamento. Tudo o que Ele fez foi por amor e a materialização desse amor foi o exercício da missão.

    Como disse anteriormente, quem ama serve. Jesus serviu a humanidade, instruindo, ensinando e vivendo em si mesmo as Verdades que lhe eram absolutas, deixando a nós, Igreja, um legado de palavras e atitudes para ser vividos pela fé.

    Paulo orienta a Timóteo a viver uma vida de piedade, que é a prática dando testemunho do Evangelho e da sã doutrina que dele procede.

    Testemunho este, que é o resultado da vida do Espírito Santo em poder dentro de cada crente (At. 1:8).

    Em Mateus 24:14 está registrado que o Evangelho do Reino será pregado em todo o mundo e, após isto, virá o fim.

    Ter consciência de nossa missão, nos coloca numa posição profética dentro desta era que vivemos. Saber que o fim só virá após o Evangelho do Reino ser pregado e testemunhado em todas as nações deveria nos mover a elas numa marcha permanente e concentrada.

    No penúltimo versículo do Apocalipse, está escrito assim: “Ora vem, Senhor Jesus!” que é a tradução da palavra aramaica Maranata.

    Isto não pode ser encarado somente como uma frase de impacto, mas uma atitude de impacto. Como poderemos impactar as nações, declarando com atitudes Maranata? Somente com a pregação do Evangelho e o fiel cumprimento da missão, que significa assumir uma postura profeticamente adequada para esta era da igreja na terra.

    Afinal de contas, o que importa é que o Evangelho seja testemunhado para que se cumpra com a profecia da boca do Senhor e que se cumpra em nós, neste tempo.

    rafa,

    na reforma

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