Jesus herege
Dentro do campo da fé cristã tradições são absorvidas e abraçadas por grupos e denominações, em cada tempo, como resultado das conclusões que se faz do Evangelho deixado por Jesus e seus discípulos na Bíblia.
Essas doutrinas são o resultado de uma série de elementos, como cultura, padrões de pensamento, a forma como fomos ensinados, “cosmovisões”, entre outras particularidades sociais que, somadas, definem comportamentos, regras, dogmas etc.
É curioso observar que desde os tempos de Jesus, existe uma luta constante contra as heresias, bem como, seus divulgadores, os pensadores não convencionais.
Ora, baseados na etimologia mais sincera e primitiva dessa palavra e recorrendo a sua raiz grega, descobrimos que “hairetikós” significa “aquele que escolhe diferentemente do recomendado”.
Não é o bixo papão, como se costuma pintar por aí, portanto. Pelo contrário, parece que o monstro se encontra no caminho da ocupação do posto de regência das definições do certo e do errado. Com arrogância luciferiana, alguns homens, tomados do vício da insolência, insistem em colocar-se na condição divinizada de julgar e recomendar rumos de pensamento a outros.
É ainda mais curioso perceber que o próprio Jesus foi um herege! Digo isto porque Ele mesmo enfrentou essa arrogância e a encarou como um Davi diante de Golias, ambos, triunfando e arrancando-lhes as cabeças. Davi, em sua vitória, deu um passo fundamental rumo à libertação de Israel, a de Cristo, foi o fundamento da liberdade de cada indivíduo que crê.
O monstro da ignorância religiosa foi derrubado pelo Senhor e precisamos compreender isto de forma mais clara nestes dias para que não incorramos aos mesmos erros de nossos antecessores na fé. O fato do gigante ter sido decapitado não anula seu poder, pois ele é somente o símbolo de uma força inimiga que deve continuar sendo combatida com o uso e a compreensão esclarecida da verdade libertadora, que o Senhor veio nos revelar.
Essa guerra pode ser perfeitamente observada numa situação vivida entre o Mestre e algumas autoridades dos Judeus, descrita em João 10: 31 – 33. Ali, eles ameaçam apedrejar Jesus e diante disso Ele pergunta: “... tenho feito muitas coisas boas, por qual delas vocês querem me apedrejar?”. Eles, então lhe respondem: “não queremos te apedrejar por causa das boas obras, mas por causa da blasfêmia”.
Esse texto me ensina algo muito oportuno, apesar de triste. Religiosos, doutores, fariseus e grandes lideranças cristãs, quase sem exceção, estão preocupados somente com a legalidade doutrinária na vida dos outros e não com seus atos.
Para os religiosos, ao contrário do perfil que conhecemos do nosso Pai Celestial, não importam suas obras, suas intenções, o quanto você tem amado ao próximo e tem se dedicado à causa dos fracos e dos desassistidos.
O que importa é se você segue à risca os protocolos estabelecidos e que determinam o certo e o errado. Isso é o que eu considero a mais pura demonstração do legalismo, que é a preocupação exagerada com as teorias jurídicas das teologias que só subsistem em detrimento de ações concretas, que é o verdadeiro cristianismo.
Por outro lado, contudo, fico muito feliz ao chegar à conclusão de que, pra Deus, o que importa mesmo é concretizarmos as boas obras que emanam de nossos corações identificados com as necessidades alheias. Concluo ainda que visões teológicas são relativas e estão sempre caindo em desuso, se tornando velhas de acordo com o tempo e as conjunturas sociais.
O que nunca sai de moda é o amor e o serviço que podemos prestar à nossa geração. Portanto, estejamos certos ou errados, perfeitos ou defeituosos em nossas concepções teológicas, que estejamos diante de nossa sociedade e de Deus com boas obras para apresentar, pois só isso terá relevância para o mundo e para o coração do Pai.
rafa,
na revolução.