"As coisas que o olho não viu e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam".

I Coríntios 2:9

Muitas vezes temos usado este texto para respaldar nossas esperanças num futuro melhor. Tal como as frases de efeito motivacional, cada dia mais a Bíblia vem sendo utilizada como ferramenta de pastores feiticeiros (os quais prometem melhorar a vida dos outros através de seus salamaleques gospel).

Rituais pagãos, lógicas de bruxaria, manipulações do oculto através das palavras de Deus são coisas que vêm sendo buscadas, almejadas desde os tempos mais remotos da cristandade. Sempre houve místicos que se encantaram com os poderes para realizar sinais em diversos tempos da igreja. Inclusive, a história narra sobre um mágico chamado Simão (Atos 8) que ficou “encantado” com o poder que havia sobre a vida dos discípulos e ofereceu dinheiro para ser batizado com o Espírito Santo, o que os apóstolos recusaram (ah, se fosse hoje).

Mas ao olhar pro texto acima, vejo que o mesmo indica claramente que estamos no escuro, não sabemos o que vai ser do amanhã e que o futuro não está acessível a nós. Se há uma motivação implícita neste texto, é a de que nossa esperança deve estar firmada nas coisas invisíveis. Até porque a Bíblia também diz que esperança que se vê, não é esperança!

Todo o capítulo 2 de I Coríntios fala de uma espiritualidade superior, a qual nos conduz ao ápice da dependência de Deus, a chamada Mente de Cristo. Isto não é um poder místico que nos capacita a mudar situações, dar a volta por cima, desafiar e vencer gigantes. Pelo contrário, é uma mentalidade imersa numa realidade espiritual que se contenta com o que lhe é proposto viver no aqui e agora, consciente das bênçãos espirituais do porvir.

Não quero compartilhar um espírito conformista, pelo contrário, quero convidar cada crente a pensar com a Mente de Cristo, o qual, sendo poderoso, majestoso e puro, aceitou viver o projeto do Pai em sua vida. Um projeto ruim, contrário a si mesmo, cercado de infelicidades humanas, tais como as dificuldades de ter nascido numa família humilde, sua orfandade, a suspeita de seus irmãos e familiares a respeito de seu chamado, as traições dos amigos, os açoites dos líderes religiosos de seu tempo, o julgamento e assassinato injusto que sofreu.

Talvez, se alguém passar por coisas semelhantes hoje, lhe seja dito: “não aceite isto em sua vida, amado” ... “isto é uma retaliação de satanás”. Mas eu quero lhe dizer que, embora nossos olhos não vejam, nem os ouvidos escutem e o coração não compreenda, o projeto de Deus é maravilhoso pra nossas vidas e podemos nos contentar com ele, mesmo que seja uma Cruz.

rafa