O mito da família tradicional


 Onde começaram as crises e os estremecimentos históricos mais primitivos, senão nas famílias, as quais desencadearam guerras gigantescas - algumas até aqui, sem fim? 
A Bíblia narra divisões fraternas intra uterinas e ainda relata de tempos remotos que irmão luta contra irmão, aliás, o primeiro assassinato da Escritura Sagrada é um fratricídio.
No Livro também podemos encontrar relatos de pais que amaldiçoaram filhos, esposas que enganaram maridos, enfim, as tretas são velhas e remontam as origens da civilização.
Não é de hoje que se defende a instituição familiar tradicional, como se a mesma fosse a promessa indefectível de cura da sociedade, quando, na verdade, a doença social está em outra peça social. 
Se a família tradicional é a célula mater da sociedade; se papai macho e mamãe fêmea constituem o ambiente mais seguro para os filhinhos, então, qual a razão de termos produzido tantos demônios no mundo desde tempos tão antigos dentro desses mesmos ambientes? Onde está o início disso tudo? 
A defesa desse ponto de vista baseado no modelo tradicional consiste em argumento cego. 
Quem duvida que modelos familiares diferentes dos históricos podem dar certo está se iludindo com mentiras, está sendo levado por discurso e não está raciocinando.
É lógico que muitas famílias baseadas em modelo macho-fêmea (papai-mamãe) deram e dão certo, mas muitas outras não deram.
Ora, sempre se soube de pessoas criadas por avós, tios, só pelas mães, só pelos pais e em orfanatos e que se transformaram cidadãos excelentes. 
Sobre o bojo da discussão da atualidade, será mesmo que crianças criadas por casais formados por pessoas do mesmo sexo estarão fadadas ao insucesso? Duvido que alguém possa fazer categoricamente tal afirmação.
Na minha opinião, creio que continuará sendo do mesmo jeito, ou seja, haverão indivíduos que serão bons e maus, na medida em que houverem pessoas criadas e educadas com amor ou ódio. 
Só o amor constrói pessoas saudáveis, o resto não garante nada, pois todos sabemos que muitas famílias formadas por pais heterossexuais são tristes antros de violência e desrespeito. Pois no abrigo inviolável do cidadão rola cada coisa bizarra que os jornais sensacionalistas estão cansados de mostrar.
A família não é a matéria prima da sociedade, pode até ser uma célula, um micro órgão social, mas pode ser saudável ou um câncer, de acordo com o que se passa dentro de seu convívio.
Deixemos a ilusão e a hipocrisia de lado. Os indivíduos fazem toda diferença e prejulgar modelos não tradicionais, condenando-os a marginalidade constitucional é um erro tolo, não é racional e está baseado em fundamentalismos mal elaborados e preconceituosos. 
A família tradicional é um mito, ela não existe, o que existe é um ilusão tola e surreal, na qual acreditam os que se escondem atrás de uma capa hipócrita de perfeição humana.

Rafael Reparador

0 comentários: