Pirataria: Crime e pecado??


Quem é jovem há mais tempo como eu, certamente se lembra de quando aquela música mais tocada do momento iria começar a rodar na rádio. Ficávamos ali, com as fitas cassete no ponto, com os dedos fincados nos botões Rec / Play / Pause, esperando pelo momento exato, quando o locutor anunciava que o som seria executado na íntegra, para que os apaixonados pela música ou banda pudessem gravá-la sem perder nenhum detalhe.
É isso mesmo! Nós gravávamos as nossas músicas preferidas diretamente das rádios e só assim poderíamos escutá-las quantas vezes quiséssemos. Era isso ou então deveríamos comprar os discos nas lojas do ramo. Sim, disco, LP, vinil... nunca ouviu falar? Tudo bem, o que importa explicar aqui é que não era todo mundo que podia entrar numa loja e comprar um disco, pois custava caro, principalmente os discos dos artistas do momento, que eram logicamente os mais valorizados.

Quem podia, contudo, levava pra casa aquela gigante peça negra e chata de vinil e botava a rodar em seu toca discos portátil, ou ainda no seu três em um.
Aquilo tinha um som diferente, parece que era sempre acompanhado por um ‘pic’ contínuo que só podia ser escutado claramente nos intervalos das músicas. Em alguns casos era só um probleminha na agulha e uma simples caixinha de fósforo fazendo um peso em cima dela resolvia, mas chega de nostalgia!!!

Passando o tempo, com o avanço da tecnologia, a tendência em tornar as coisas cada vez mais portáteis continuou como sempre e, com isso, vieram as mídias digitais, chamadas de Compact Disc, o nosso conhecido CD.
Novos aparelhos foram criados para rodar essas pequenas peças musicais mas a demanda ainda não justificava uma transição radical no mercado brasileiro dos antigos LP´s para os então modernos CD´s e, com isso, uma nova modalidade de comércio se iniciou, que eram as locadores de CD´s.
Assim como as homônimas que alugam filmes em DVD, essas lojas colocavam à disposição do mercado, que estava ainda engatinhando, uma grande variedade de títulos nacionais e importados na mais pura tecnologia digital. Como música não filme, não se alugava um CD para ouvir uma vez só e sim para gravar naquelas mesmas fitas cassete e com isso ficar ouvindo e ouvindo o nosso som favorito.

Ta! Com o mercado aberto e a mentalidade popular geral conformada com a necessidade de ser ter um Compact Disc Player em casa, foi declarado oficialmente o óbito do LP, pelo menos para as massas consumidoras, e com isso, inaugurou-se uma nova era digital no mercado da música.
Com os disc players (tocadores de CD), vieram os disc recorders (gravadores de CD) e, diferentemente das gravações de LP para K7, ou mesmo de CD para K7, numa gravação de CD para CD, nunca se perde qualidade. As mídias digitais gravadas são sempre idênticas às originais!
Quando se copia um CD em Wave ou Mp3, as perdas de qualidade são imperceptíveis aos nossos ouvidos leigos, que estão mais interessados em curtir o som e ser agraciados com a companhia agradável da banda favorita, baixada no contemporâneo Mp3 Player.
Neste e naquele tempo, tudo o que sempre quisemos foi ter acesso à música – a principal arte da humanidade - e nessas duas ocasiões de nossa história recente esteve presente a figura implacável do apetite voraz pelo lucro, que terminava elitisando o acesso a esse tão elementar bem de consumo.

Na falta de cristãos que levantem a bandeira em favor dos pobres amantes da música, entre os quais me incluo, sugiro duas citações musicais contidas na rica música popular brasileira para refletirmos um pouco:

“A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”
Arnaldo Antunes - Titãs

E, por fim:

“Todo artista deve ir aonde o povo está”
Milton Nascimento


O povo cristão deve ter acesso justo à música de seu artista favorito, por isso aproveito esse espaço para fazer meu manifesto aos grandes empresários pastores da música gospel que, por favor, parem de atar pesados jugos sobre os irmãos – jugos que eles mesmos não querem mover nem com um dedo – dizendo que comprar CD pirata é pecado, ao invés de pensarem em algo que diminua essa relação mercadológica opressora que disponibiliza um CD do ministério “tal” por cerca de R$20,00 e o DVD do mesmo ministério por R$50,00, enquanto o mercado paralelo consegue chegar a um preço que representa as vezes 10% do valor do que é praticado nas lojas oficiais.

Ah! Por favor, parem de usar e abusar daqueles pretextos bíblicos descontextualizados, falando coisas como “devemos dar a César o que é de César”, pois isso já está muito ultrapassado, pois, caso vocês ainda não saibam, César se converteu, congrega na Igreja Evangélica da Riqueza Plena Corporation e se tornou investidor do rentável mercado fonográfico gospel.

3 comentários:

Mariana Muniz disse...

Pastor Rafa...
Quanto mais leio os seus textos, mais me impressiono com a maneira que você encara as coisas...
Você consegue fazer nós entendermos a situação, criando um ponto de vista com bases certas, e a meu ver, totalmente corretas.
Parabéns pelo seu incrível trabalho, e que Deus continue a usá-lo cada vez mais.

Anônimo disse...

Que revolta irmão!!!!

Anônimo disse...

Concordo plenamente pastor!
E pra rebater essas pessoas que se prendem nestes preceitos bíblicos que vc citou, gostaria de lembrar um versículo que vai em oposição ao que estes grandes ministérios estão fazendo:(... de graça recebestes, de graça dai. mt 10:8). Eu adoro presentear meus amigos com CDS, mas francamente, os preços são absurdos, chegam ser bem maiores que muitos artistas seculares do momento. Só quero lembrar que Jesus nos deixou um "IDE" que precisa ser cumprido, os cristão que louvam e engradecem o nome do Senhor tem que ter essa conciencia de que primeiro o reino precisa ser propagado. Acho um absurdo essas pessoas se enriquecerem usando o evangélho de Cristo.
"só pra ilustrar: um dia fui a uma loja aqui da cidade comprar um cd (se eu não me engano e o Deus de milagres do ministério Santa Gerãção)eu olhei o cd que eu queria e vi o preço de R$22,00, olhei pro lado e na capa de um cd lançamento da banda calipso o valor de R$13,00... sem coméntários...
Desculpa ocupar todo este espaço com este desabafo. mas este assunto ultimamente me entristece muito.