O Caminho

“e vós sabeis o caminho para onde eu vou.  Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho?  Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”.

João 14:4-6

Introdução

Sendo uma pessoa, como Jesus poderia se auto-descrever como sendo o caminho? Como identificar o caminho através da vida de uma pessoa?
Alguns crentes afirmam que Jesus é a resposta, mas qual é a pergunta? Está escrito que Jesus é a porta, mas o que significa isso?
Sabemos que tudo isso são figuras de linguagem usadas para trazer entendimento aos homens através de metáforas e que a compreensão direta e objetiva disso tudo se dará somente com a revelação do Espírito Santo em nosso interior.

Vejamos, portanto o que seria este “Caminho de Jesus”.
Em 1ª João 2:6 está escrito: “aquele que diz que permanece nele, esse deve andar assim como ele andou.”

 

1.    O Caminho Alto

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”.  Isaías 55:8,9

Esta é uma consciência que deve estar profundamente enraizada dentro de nós e, certamente, estava firmada na vida de Jesus.
Em uma ocasião, o Senhor disse que o seu juízo era verdadeiro porque não julgava as coisas de si mesmo, mas segundo a mente do Pai - leia João 8:13-16. Quando disse isso, Jesus estava afirmando que não pensava nem andava por si mesmo, mas que todas as coisas em sua vida eram conduzidas pela revelação que o Deus Pai lhe trazia através da relação de intimidade com o Espírito Santo.
Todos nós temos hoje a oportunidade e a capacidade de andarmos nessa dimensão de vida com Deus. I Coríntios 2:15, 16 diz: “Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. Pois, quem conheceu a mente do Senhor, que a possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo”.

Que coisa impressionante! Está ao nosso alcance. É só uma questão de entendimento e, sobretudo fé.

O que a Bíblia está nos dizendo é que se formos homens e mulheres espirituais, quer dizer, não carnais, estaremos sob a influência dos pensamentos altos de Deus e invariavelmente andando em seus altos caminhos.
Não basta sabermos que Deus possui caminhos e pensamentos mais altos que os nossos quando recebemos a consciência de que podemos desfrutar desses pensamentos e caminhos abundantes do sobrenatural.
Sobrenatural é aquilo que está sobre o natural, ou seja, está acima dos pensamentos e caminhos naturais de nossa fraca humanidade. A Palavra viva de Deus nos diz que podemos ter pensamentos altos e por isso podemos também ter caminhos altos e andar segundo os caminhos de Jesus.  

2.    O Caminho Santo

“E ali haverá bom caminho, caminho que se chamará o Caminho Santo; o imundo não passará por ele, será somente para o seu povo; quem quer que por ele caminhe não errará, nem mesmo o louco”.  Isaías 35:8

Uma marca sempre presente na relação de Deus com seu povo é a exigência de que esse povo seja separado dos demais.
Nosso Deus é Santo, ou seja, Ele é diferenciado de qualquer outra divindade, não existe nenhum outro deus semelhante a Ele.
Da mesma forma, há esta exigência de santidade para todos os seguidores de Deus e Jesus cumpriu esse quesito de forma extraordinária.
A chamada à santidade é, portanto estendida a todos os crentes, indistintamente. Mas o que ocorre é que a santidade não pode ser classificada, “neo-testamentáriamente”, como uma coleção de normas e doutrinas a serem seguidas, mas por um caminho pelo qual devemos enveredar.

Essa compreensão deve abrir nosso entendimento a fim de que saiamos da maneira normativa de vivermos a Palavra, pois a Palavra deve ser encarnada assim como aconteceu com Jesus. O Mestre era o Verbo encarnado (João 1:14) e não um observador fiel aos preceitos contidos na Lei de Moisés, os Fariseus é que eram assim.
Observar a Lei de Deus é algo aparentemente bom e justo, mas não é este o projeto do Senhor para esta dispensação na Terra, e conseqüentemente este não é o modelo de santidade que está a nossa disposição nas regiões celestiais.
Nossa santidade está relacionada á nossa fé e disposição em seguir pelo caminho proposto pelo Senhor Jesus. Logo ali em cima eu citei o texto de 1ª João 2:6 que diz: “
aquele que diz que permanece nele, esse deve andar assim como ele andou.”, ou seja, tudo o que devemos fazer é andar nele, no Caminho e seguí-lo. É muito simples! Tão simples que fica difícil de se entender como alguém pode se tornar mestre em um assunto como este.  Irmãos é só seguir o Mestre e a santidade virá. Siga o Caminho, pois ele é santo e não você. A Bíblia está nos esclarecendo que não sou eu, nem você, nem o pastor o santo, mas o caminho é que é santo. Diz ali que até mesmo o louco vai andar nele e não irá errar. Irá andar em santidade todo aquele que não se desviar do Caminho Santo.
Muito mais poderíamos discorrer sobre isto, mas no momento é o que basta.  

3.    O Caminho Novo e Vivo

“pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne”. Hebreus 10:20


Este texto fala de entrarmos corajosamente num lugar profundo da presença de Deus, o ápice da Glória divina. O Santo dos Santos é o coração de Deus, o centro dos projetos e das emoções do Pai Celestial; um lugar escondido, secreto e ao mesmo tempo acessível aos filhos.

Infelizmente, não são todos os crentes que se dispõem a tal aventura. Entrar no coração de Deus é mergulhar numa nova dimensão espiritual, é passar a ver as coisas por uma nova ótica, a ótica do sobrenatural, ou seja, aquilo que está acima e além da compreensão filosófica, teológica, enfim, natural.
Nesse lugar novo, recebemos um batismo revolucionário, pois ele nos eleva a compreensões bem mais altas do que qualquer coisa que já tenha sido discutida ou estudada ainda que pela mais elevada sabedoria e ciência humana já revelada nas mentes mais privilegiadas e notáveis que existiram ou venham a existir neste planeta.
Estamos falando aqui das coisas elevadas de Deus; o Deus dos altos caminhos e das altas revelações. E o lugar de onde essas jóias são transportadas e descarregadas ao coração humano é o coração de Deus, o Santo dos Santos.
É importante notar que esse lugar é chamado de Santo dos Santos porque é reservado somente para Santos, por isso, é indispensável que o crente tenha consciência de seu chamado e predestinação para a santidade pessoal.

A marca mais profunda se encontra nas palavras novo e vivo. Ali está escrito que há um caminho com estas características: novidade e vida.
Jesus disse que deixava um novo mandamento aos seus discípulos: o de se amarem mutuamente. Somente o apóstolo João citou esta ordem do Senhor pelo menos sete vezes em seus escritos. Entendo que a palavra novo tem a intenção também de manutenção, ou seja, manter-se sempre nova a idéia e a atitude do amor entre os irmãos. E aqui neste texto que estamos estudando é a mesma coisa: o caminho se renova sempre. É um caminho vivo e por isso não está estático, enraizado, travado, bitolado, engessado ou coisas desse tipo... deu pra entender?
O caminho por ser vivo, se renova sempre e precisamos sempre estar atentos a isso. Corremos o risco constante de sistematizarmos a visão de Deus e sua Palavra.
Um exemplo disso foi, quando há alguns séculos, uma junta de eruditos se reuniu para consolidar o Cânon, aqueles homens imprimiram e colocaram capa na chamada Palavra de Deus. A Bíblia é sem dúvida a Palavra de Deus, mas você pode concordar comigo que Deus, sendo infinito, não pode ser fechado entre algumas centenas ou milhares de páginas. A prova mais evidente do que estou citando aqui são as palavras de João no último versículo de seu evangelho que diz:
“Jesus fez muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que seriam escritos”.


Esta é a grandeza de nosso Deus. Ele não pode ser simplesmente encaixotado, encapado entre páginas. Deus é infinito, Ele é simplesmente imprevisível. Deus não se deixa enlaçar por uma sistemática, por uma tradição ou coisas desse tipo. Lemos a Bíblia porque ela é a Palavra de Deus e ali estão contidos os testamentos que o Senhor deixou registrados para a humanidade, mas nossa relação com o Senhor não deve se restringir a uma tradição apenas. Veja o que está escrito em Isaías 29:13:
“Este povo se aproxima de mim com a sua boca, e com seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim. O seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em coisas aprendidas por rotina”.

Numa outra versão o versículo termina dizendo “em coisas que aprenderam maquinalmente”.
I
sso é a verdade de Deus! Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor, está escrito. Essa deve ser a grande marca de nossas vidas, conhecer ao Senhor. Uma parte de Deus é revelada por sua Palavra Escrita, mas há ainda mais a ser mostrado. Quando conhecemos ao Senhor somente através das tradições, o conhecemos de maneira imperfeita, pois as tradições são humanas e não mudam. Quando recebo algo que alguém aprendeu de Deus, recebo algo da parte desse alguém e não diretamente de Deus. Não há nada de errado nisso, mas ao conhecer o Senhor, pela pregação do Evangelho devo me dedicar em conhece-lo pessoalmente. Assim, poderemos ter a convicção de estar bebendo diretamente da fonte.

É possível provar o argumento do quanto uma tradição infecta e acaba sendo nociva no caso da pregação do Evangelho de Jesus citando o exemplo dos missionários norte-americanos. Uma das maiores acusações feitas contra a pregação do Evangelho contemporâneo é a de que esses missionários levavam além da pregação cristã, costumes e tradições do estilo de vida americano que acabaram influenciando e modificando definitivamente diversas culturas e povos.   
Em muitas igrejas no Brasil é comum vermos os pregadores usarem ternos e gravatas, ainda que sejamos um país muito quente. Isso é sem dúvida influência dos primeiros pregadores que trouxeram o evangelho dessa forma ao nosso país. Nas questões musicais, doutrinárias, enfim, quase tudo no evangelho recebido pelo Brasil foi trazido por missionários e pregadores americanos e estão impregnados de conceitos culturais daquele país.
A Palavra de Deus está além dessas coisas humanas, e elas não são ruins por si só, mas quando são colocadas no mesmo nível das doutrinas bíblicas acabam se tornando parte do Evangelho, manchando assim a revelação.

É fundamental então que todos compreendamos que o Caminho de Deus é novo e vivo, ou seja, não é como alguém te contou um dia, mas pode se manifestar de diferentes maneiras em diferentes culturas. Jesus é negro na África, Loiro na Dinamarca, Moreno no Brasil, é capitalista, socialista, neoliberalista ou até mesmo comunista. Ele simplesmente é o que é onde quer que tenha sido revelado! Não podemos ficar restritos àquilo que nos disseram apenas, isso é só o começo, devemos mergulhar na novidade e na vida do Caminho do Senhor para que possamos desfrutar de tudo aquilo que Ele tem para as nossas vidas.

Obedecer é melhor do que sacrificar


A diferença de um Deus ritual para um Deus relacional.

 

O Jardim foi o lugar que Deus preparou para se relacionar com sua criação. Lá tudo é perfeito, adequado para a preservação da vida infinita que o Senhor reserva a seus filhos.

Desde a fatídica queda, o ser humano busca pelo Jardim, ansiando pelo lugar onde reina a paz, a harmonia, a vida e onde não há doenças, injustiças, nem há morte.

Contudo, o Homem em sua auto suficiência, na busca de um método que projetasse uma ponte até esse lugar divino, passou a criar e estabelecer fórmulas para atingir seu alvo. Um exemplo clássico e bíblico disso foi Babel, em que a humanidade se reuniu em uma grande convenção, a fim de estabelecer uma torre que os levasse até o céu.

Que grande descoberta fiz aqui: Babel é a avó das convenções!  

(Mas veja se não é assim que muitas igrejas pregam hoje em dia: “se falarmos uma mesma língua, não haverá limites para nossa conquista”).

Todavia, visto que não depende de quem busca, mas sim de quem se deixa encontrar, Deus se faz achado apenas daqueles que Ele mesmo permite, quando encontra um coração decente e condigno com seu padrão.

Ouso declarar que Deus não quer rituais, não quer que os homens sigam a um severo código doutrinário, Deus quer obediência. Quer que aqueles que se relacionem com Ele o ouçam com o coração, cumprindo com Sua Palavra revelada por uma opção pessoal, não por um medo doutrinário, mas por um amor não impositivo.  

Os ritualismos cristãos geram identificações sociais e, por conseqüência, facções teológicas. Tudo isso vem acompanhado de um senso maniqueísta que traz consigo a pseudo espada real que condena ou absolve.

Deus não está nisso! A perspectiva de Deus é a de um relacionamento entre Pai e filhos.

Via religião, a relação entre Deus e os homens não deveria condenar ou absolver, mas sim conviver, apascentar, suportar, evangelizar, cumprindo cabalmente o maior dos mandamentos, que é o do amor mútuo no convívio da família cristã.    

Então, quando se prefere uma série de ordenanças sacrificiais a obedecer a Deus, deixamos de vivenciar a plenitude de um relacionamento pessoal com o Pai, entrando num vago convívio ritualista com uma religião que não conduz ao alvo mais primitivo dos nossos corações, o Jardim.

 

P.s.: O verbete obedecer é traduzido do termo latim oboedio, que é a união das palavras ob + áudio. Ob é traduzido para contra e áudio é ouvir, portanto, obedecer, poderia ser entendido como “ ir de encontro com o que se ouve”. Esta é a perfeita tradução do termo hebraico shema, título da confissão central de fé dos judeus, a qual deve ser rezada diariamente por eles. 

Palavras ao vento


Sementes lançadas a esmo que caem num solo invisível

Pérolas dadas aos porcos, palavras flutuam ao vento

Escrevem-nas em muros e prédios, viadutos, estátuas, marquises...

Manifesto rebelde e sem valor

Vejo mais esperança numa flor:

Desabrocha e libera o perfume e a cor

Destilando no ar a mensagem que atenua a dor

Poliniza o ambiente, cumprindo a missão maior do amor

Multiplicar o belo e o bom, formando a geração que brilha a Luz do Salvador

DOR...

Dor...

Que me faz perder o sono, que me faz perder a cor

Que me faz andar mancando e querer não viver mais


Que revela os meus limites, que me faz arrepender

Me apresenta a esperança, filha bastarda do sofrer

 

Uma dor assim tão forte, que me expõe o interior

Me ensina que minha sorte escorrega de minhas mãos

Me obrigando a depender da piedade de outrem

Sem de fato compreender o por que de tudo isso

 

Se existe alguma meta, algum segredo a revelar

Se há uma conspiração nos espíritos do ar

Só me restam paliativos que amenizem minha luta

E a espera paciente de uma força absoluta

Que me guie com clareza por um rumo cristalino

Me fazendo repousar sob as asas do meu destino

Alcançando minha paz, meu conforto, meu ninho

É mais ou menos assim que eu penso:

Antes de mais nada, entendo que Jesus é o sumo pastor e como tal, autoridade única e máxima sobre tudo o que se denomina Igreja na Terra, portanto, devemos obedecer sempre e exclusivamente a Ele.

Sei também que a graça é verdadeiramente de graça e que nada que façamos poderá impedi-la ou desencadeá-la, pois ela é o favor de Deus, que nenhum ser humano merece ou sobre o qual poderia dominar.

Igualmente, acredito que a Igreja não é um prédio, tampouco se resume a um grupo de pessoas dentro de um. Se o termo igreja significa “os chamados para fora”, então um grupo de pessoas “dentro” de um lugar pode ser qualquer coisa, menos Igreja.

Finalmente, desafio cada um de vocês a não aceitarem nada aquém do que a plenitude do plano de Deus para suas vidas.
É importantíssimo que cada parte do Corpo tome o lugar para o qual foi predestinado, afim de que o Plano Soberano de Deus para nossa geração seja efetuado cabalmente.
Se deixarmos de vivenciar a nossa livre individualidade em Cristo, em troca da pobre aceitação convencional, estaremos abortando um belíssimo e original sonho de Deus.

Devemos confiar que o Pai é plenamente capaz de transformar as amargas situações da vida, os desertos e os vales da sombra da morte em fontes de avivamento, transformação e de transmissão do Reino de Deus à humanidade.

Que cada um de nós seja capaz de tomar sua cruz, negar-se a si mesmo e seguir sua jornada pessoal trilhando as pegadas do Messias.


Extraído do meu livro "O Diário de um Inconformado", que um dia vou lançar!! Deus é quem sabe... 

Shalon!