Voz de júbilo na igreja
Dia desses fui a uma igreja junto com um amigo que veio do interior. Ele é crente, estava aqui a trabalho e queria muito “pegar” um culto na igreja da moda em Porto Alegre. Como bom cicerone, acompanhei o irmão até lá.
No culto, como reza a cartilha evangélica costumeira, as coisas começaram através do louvor. Músicas de júbilo, de guerra e depois, canções melódicas de adoração com baterias tribais, power acordes e gritos emotivos. Tudo isso permeado a palavras de ordem e rezas decoradas, daquelas que foram escritas pela apóstola Valnice.
Como todo crente com a cabeça cheia das coisas do dia, eu estava lá naquele culto, lutando comigo mesmo para entrar no clima, quando me lembrei do que escreveu o autor da Carta aos Hebreus, dizendo que não devemos deixar de congregar, pois congregar serve para nos estimular ao amor e às boas obras. Naquele instante, observando desse ângulo, subentendi que o congregar é uma prática motivacional.
Contudo, pensando mais um pouco - e naquela altura do culto, já estava em outro planeta, completamente alheio ao que se passou daquele momento em diante – concluí que práticas motivacionais podem ser extremamente perigosas quando tentam manipular as pessoas através de revelações, teologias, profecias...
Lembrei-me de uma situação bíblica análoga, em que houve uma tentativa de motivar o povo de Deus para uma batalha. Essa história está em I Samuel 4:5-10 e conta que os hebreus estavam prestes a sair em batalha contra os filisteus, mas seu líder percebeu que eles não estavam no clima e então, mandou que trouxessem a Arca da Aliança até o meio deles, o que gerou uma explosão emocional entre os soldados.
A excitação foi tal, que fez tremer o acampamento do exército inimigo. O clima de já ganhou tomou conta de todos, pois seus sentidos estavam dominados de uma emoção triunfalista tão forte que não admitia a menor possibilidade de derrota.
A Arca dava a sensação evidente de que Deus estava entre eles, mas, no entanto, a história que veio logo a seguir não foi nada daquilo que eles esperavam, pois perderam a batalha, trinta mil soldados morreram e os que restaram voltaram cada um para suas casas debaixo de uma frustração terrível.
Em nosso hinário evangélico, é comum usarmos frases baseadas na primeira metade desse texto de I Samuel 4, dizendo: “Que voz de grande júbilo é esta no arraial dos hebreus?”. Mas é muito importante nos lembrar desse evento como uma tentativa frustrada de motivação forjada por uma falsa bênção de Deus, pois ainda que a Arca da Aliança estivesse entre eles, a Presença Viva para vencer aquela batalha não estava.
Cuidemos para não cair no mesmo erro em que caíram nossos antepassados da família de Deus. Os tais, julgando haver sobre si uma unção de conquista e de vitória, na verdade não tinham nada além de tentativas motivacionais humanas, carregadas de cacoetes ritualistas, de promessas e profecias falsas que, descontextualizadas, são como uma Arca sem a Aliança, com aparência de Glória e bênção, mas sem o conteúdo vivo e eficaz para o êxito.
rafa,
Na revolução