Evangelho das aparências


A aparência sempre foi uma grande preocupação religiosa e também social!

Na igreja e em outras religiões, se especula bastante sobre a expressão estética das pessoas e da possibilidade da mesma revelar influências malignas ou benignas nelas.

Talvez essa afirmação se pareça muito com o lance do preconceito e é, mas não muda o fato de algumas pessoas medirem outras pelo exterior.

Já que o assunto tatuagem tem dado tanto pano pra manga, vou falar mais um pouco!

Em tempos não muito distantes, lembro-me que tatuadores eram vistos como corruptores de mentes fracas, uma espécie de pichadores clandestinos de corpos, artistas rebeldes cujo fruto era a destruição da integridade e da santidade dos corpos das pessoas.

Sua prática era comumente relacionada com o uso de drogas, com o universo obscuro e maligno do rock e seus ambientes de trabalho eram cavernas lúgubres e sem a menor higiene nos fundos de uma casinha qualquer, na periferia de uma cidade.

Ao menos era assim como eram vistos por muitos na sociedade!

Hoje, uma tatuagem pode custar milhares de reais e seu universo é assunto de programas de TV a cabo, chamando a atenção de pessoas de todas as camadas e círculos sociais. É vista e reconhecida como uma arte e profissão, sua prática é normatizada e regulada com políticas de saúde pública, enfim, é algo totalmente inserido na sociedade nestes dias.

Embora ainda exista o preconceito, uma pessoa não pode ser demitida por ter uma tatuagem, sendo respaldada por leis trabalhistas específicas, por exemplo.

Enfim, hoje, fazer uma tatuagem é o mesmo que comprar um tênis e ser tatuador é o mesmo que ser um consultor de moda ou um pintor.

Os tempos mudaram!

Mas mudaram também para a igreja, embora alguns possam não ter percebido.

De tão misturada ao mundo que está, já não podemos mais olhar para uma pessoa e dizer se ela é crente ou não.

Em um tempo não muito distante, o uso da gravata no domingo, a Bíblia debaixo do braço, os hinos tradicionais que cantarolavam já os identificava.

Outra marca era a do bom caráter! Ser crente era uma credencial de boa conduta e muito da discriminação que sofriam, estava intimamente ligada à chacota pelo padrão moral elevado com que conduziam suas vidas.

Com os novos tempos, o sinal da santidade deixou de ser a gravata domingueira e a Bíblia debaixo do braço, passando agora a ser a prosperidade. Os hinos, que outrora falavam da vida gloriosa no céu, sobre a eternidade prometida, agora falam da vida glamurosa na terra, invocam a bênção divina, clamam pelos direitos bíblicos de restituição, tal como se invoca um espírito qualquer, ou um gênio da lâmpada.

Para falar do caráter dos crentes de hoje, é só lembrar dos que se envolveram com a política. Dinheiro na cueca, bispos de alta estirpe envolvidos em escândalos, enfim, um lamaçal.

É, os tempos mudaram mesmo!

Não vejo nada de mal na mistura, desde que sejamos o Sal.

Misturados ao mundo, podemos dar a tônica de um testemunho positivo e tranformador.

Se uma pessoa crente possui uma aparência forjada por piercings e tatuagens, sua missão é implacavelmente taxada como falsa, pois são relacionados ao caos e a desordem, vivendo uma espiritualidade anárquica e pagã.

Nossa obra é rejeitada pelo fato de andarmos pelas regiões boêmias das grandes cidades, ouvir rock alternativo e nos misturar a punks, marginais e delinquentes, sentar com eles nas calçadas, nas mesas de bares, comer e beber com eles, ir a seus shows, entrar em suas rodas e círculos de amizade.

Além disso, pregar que Jesus está acessível a todos, sem discriminação de cor, classe, orientação sexual e que não importa de onde cada um deles veio e que nem tampouco necessitam sair de onde estão para que possam se relacionar com Ele, soa como heresia, embora biblicamente irrefutável.

Ensinamos que para as pessoas se relacionarem com a Igreja, não necessariamente necessitam ir à uma e que também não precisam receber das mãos de algum sacerdote constituído a bênção de Deus, pois agora pela fé, receberam o acesso direto ao único Mediador dessa bênção, o Filho.

É verdade, estamos todos misturados ao mundo, porém, nossa diferença está na lógica de nossos pensamentos e ações, pois, pra nós, igreja do underground, não importa o lugar em que estamos, desde que levemos dentro de nossos corações a pessoa de Jesus e seu Espírito transformador, que nos dá acesso ao Pai; para vocês, igreja institucional, não importa o que está por dentro, desde que estejam prosperando, dêem o dízimo e as primícias de tudo e estejam participando dos cultos de sua denominação.

Não negamos nossos pecados, aliás, eles estão bem à vista de todos, contudo, temos buscado um coração humilde, clamando pelo Perdão e pela Graça divinos, como se esta fosse a nossa última esperança e por ser, estamos agarrados a isso.

Apostolando no caos e na desordem!!

rafa,

na revolução

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