Até que ponto posso ir com minha loucura?
“Porque, se enlouquecemos, é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós”.
O mesmo Paulo que escreveu estas palavras acima, em sua primeira carta que enviou aos próprios Coríntios, afirmava ser louco por amor de Cristo.
É fato que no início da caminhada a gente é doido, a gente topa várias paradas, a gente tá apaixonado, a gente paga um preço, a gente sofre, dá a vida, passa por um monte de revezes, a gente vence a frustração e todas as más notícias que pintam pela frente.
Estamos patrolando tudo e todos pela força de nossas convicções!
O apóstolo chegou a exclamar, com um estranho orgulho, ser o lixo do mundo e o esterco do universo. Só um louco faz declarações tão fortes e convencidas, aliás, ele era uma espécie rara de cristão mesmo, um tipo de crente “jihadista”.
Talvez o tempo tenha passado e agora ele tenha uma visão um pouco mais comedida sobre alguns aspectos de sua loucura. Chego a observar, com este simples versículo que dá a referência para esta reflexão, que podemos ter uma visão legal sobre uma questão que há muito venho propondo dentro de mim mesmo: até que ponto posso ir com minha loucura?
Não há nada de mal em ser um louco por Cristo, ou como uma geração cristã globalizada aprendeu a proclamar, ser um Jesus Freak.
Na busca por observar as coisas sob uma ótica mais espiritualista, essa loucura pode ser - digo de forma otimista - o fruto de uma forte paixão pelo Evangelho.
O fato é que não permanecemos jovens para sempre, o tempo bate à nossa porta, as solicitudes da vida vão se tornando mais graves e urgentes e a gente fica meio que de saco cheio de tanta guerra nas relações e diálogos.
Note que ele escreveu que a gente enlouquece por causa de Deus. Todos os que entendem o tamanho do prêmio da eternidade comparado com os diminutos prazeres de uma vida neste quadrante terrenal, passam a enxergar a vida cvomo algo assim, tão... fútil!
Moda, dinheiro, música, tons, sabores, ambições e objetivos desta vida do já-pronto perdem todo o sentido com o descortinar da absoluta e profunda Verdade que está no conhecimento de Cristo.
O padrão do Evangelho pira a gente, isto é um fato, mas nossa completa imersão nessa vida é meio que impedida quando nos deparamos com os limites naturais nas relações da igreja.
É por essa razão que Paulo diz: “se conservamos o juízo, é para vós”.
Demorei muito pra entender o que significavam as palavras ditas em II Timóteo 1:7: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação”.
Aí está o mistério revelado! A moderação é uma virtude que desenvolvemos durante a caminhada em busca da maturidade espiritual.
Deus me enlouquece, mas eu conservo o juízo por causa dos meus irmãos. É
A suprema revelação me torna um completo maluco, um exótico, às vezes, anti-social, mas a moderação me traz de volta ao padrão dos irmãos, afinal de contas, tudo o que fazemos no ministério é pra eles, a Igreja.
O alto do monte da transfiguração me faz trafegar dimensões inexplicáveis e desejar ficar no céu, mas o amor de Cristo me constrange a descer e andar entre os irmãos novamente.
Até que ponto posso ir com minha loucura? Até o ponto em que ela não me torne tão distante e estranho aos meus irmãos, que venha a ser irrelevante e não compreendido. Pois aí, deixei de servir!
rafa,
sempre na revolução.