Santa Ira
“Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”. Efésios 4:26
Muita gente possui restrições severas com determinadas expressões que compõem a alma humana. A natureza dos homens possui uma diversidade sem fim de nuances e perspectivas, muitas delas, estancadas por causa de regras tradicionalistas, ou em nome da manutenção de sociedades uniformizadoras.
Isso acontece em diversos setores sociais e também vêm ocorrendo com frequência ao longo da história da cristandade.
Um exemplo clássico desse tipo de pensamento limitador que vicia os cristãos é a questão da sexualidade que, por séculos foi tratada – e, surpreendentemente, ainda tem sido, em muitas correntes religiosas - com ignorância e preconceito, quase sempre sendo relacionada como um ato pecaminoso e profano.
Mas o lance do sexo é só um exemplo! No texto que citei lá em cima, que fala sobre a ira, o apóstolo Paulo parece estar parafraseando o Salmo 4:4, que por sua vez diz: “Perturbai-vos, e não pequeis...”.
Ora, se eu disser pra alguém (como já disse) que estou perturbado, certamente serei considerado endemoninhado e se disser que estou irado, então, cai minha casa religiosa, pois estar irado é algo simplesmente descabido para um crente.
Mas o que a Bíblia diz não é isso! Ela diz que você pode estar irado, que você pode estar perturbado, que você pode estar sendo tomado de sentimentos apaixonados, sejam eles do ardor do amor ou da raiva, mas que dentro de tudo isso, você deve estar limitado, creio eu, ao fruto espiritual do domínio próprio, o qual impede que você atravesse as fronteiras de sua santidade.
Contudo, numa religião que preza tanto pela aparência, para a qual gasta-se enorme esforço, utilizando doses de cinismo, falsidade e mentira (os photoshops da alma), permitir-se irar, permitir-se apaixonar e/ou quaisquer que sejam os reflexos naturais da alma humana, pode ser fatal para a aceitação de alguém perante as convenções.
Eu estou apaixonado! No momento, me permito inclusive a ser incendiado pela ira, dado aos altos níveis de zelo que têm tomado meu corpo.
Contudo, não me vejo hoje menos santo, nem menos pecador do que em outros momentos de minha vida em que declarava a paz aos queridos.
Acho que são sentimentos como estes que nos movem em momentos de reformas. Paixão e ira acesos em nosso interior, podem ser um tempero fundamental pra romper com o fleumatismo tirano da alma de alguns acomodados, levando-os ao grito da revolução que cala no interior de todos os que nasceram de novo e contêm a chama do Evangelho acesas dentro de si.
rafa,
na Casa Firme